21 de abril de 2010
Ele ainda se lembra
Ele ainda se lembra
Foram cinco longos meses de árduo trabalho. A loja estava pronta, linda e às portas da inauguração. Cada prateleira perfeitamente organizada. Todos os produtos em seus devidos lugares. Na vizinhança, todos aguardavam a abertura do novo mercado.
Finalmente chegamos à véspera do grande dia. A noite ameaçava chover, ele porém não estava preocupado com isso e continuava a organizar o que havia ficado pendente. Enquanto isso a chuva começou a cair. O que parecia ser uma garoa noturna, tornou-se uma torrencial tempestade. A rua tornou-se um rio imundo que começou a invadir a loja. Ele lutava para não deixar que os produtos mais próximos da porta se perdessem, mas lá se foram as promoções. Em meio ao seu desespero, a forte luz do salão se dissipou em total penumbra. Já não via por onde a água entrava. O gerador não chegaria antes de um mês após a inauguração. O seguro ainda não havia sido feito. E vendo que não tinha mais jeito, que o trabalho em que investira todo o seu dinheiro estava sendo levado pela água e não podia fazer nada, pôs-se a chorar. Chorou por toda noite, como uma criança aos soluços.
Quando amanheceu, a chuva ainda caía, porém serena e tranqüila. O chão branco estava marcado pela escura água negra que o cobria. Cadáveres de ratos estavam espalhados por todos os cantos. Prateleiras desarrumadas e fora do lugar em que deveriam estar. Carnes e congelados em decomposição exalavam um mal cheiro que consumia todo oxigênio presente ali. Refrigerantes, biscoitos, macarrões, frutas. Tudo espalhado pelo chão. Como se não bastasse, já era chegada a hora prevista da inauguração. Os caixas todos afetados. Tudo havia se perdido. Isso não era justo! Onde estava Deus nessa hora? O que aconteceu com Ele? Por quê o desamparou? Por quê?
Em meio ao seu choro ele orou:
“Pai, por que me desamparaste?Por que levaste o que eu tinha de precioso Por quê?”
Ele fechou os olhos e adormeceu. No seu sonho ouviu uma voz como de uma multidão que dizia: Não temas. Eu estou aqui.
Já faz cinco anos. Ele hoje tem uma das maiores lojas de supermercados do mundo. E nunca mais teve medo da tempestade.
(...)
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Este é um fragmanto do meu livro "Ele ainda faz milagres".
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