30 de janeiro de 2011

À beira de um ataque de raiva



Estava à beira de um ataque de raiva. Resolvi então, outra vez, dar uma de Wally e pesquisar sobre o assunto. O texto foi extraído da Revista Planeta e está um pouco longo. Mas vale a pena ler.


À beira de um ataque de raiva
POR LUIS PELLEGRINI

Os enfezados que se cuidem. Pesquisas recentes confirmam que ataques freqüentes de raiva podem abalar não apenas o corpo físico, mas também a psique e a mente do raivoso. A pressão arterial sobe - e muito - durante um acesso de raiva. Ela permanece alta uma semana depois, atingindo picos elevados todas as vezes que o sentimento da ira volta à memória.

“Mesmo após uma semana, não existe sinal de redução do efeito”, dizem pesquisadores da Universidade da Califórnia e da Universidade Colúmbia em artigo publicado no International Journal of Psychophysiology, no fim do ano. Sabia-se que os hormônios do estresse, tais como o cortisol e a adrenalina, produzidos em grande quantidade pelo organismo durante os acessos de raiva, contraem os vasos sangüíneos e fazem subir a pressão arterial e o ritmo cardíaco. Mas supunha-se que esses efeitos desaparecessem tão logo passasse o acesso. As artérias de pessoas sujeitas a freqüentes impulsos de ira e de agressividade tendem a endurecer e a degenerar mais rapidamente do que as de pessoas mais calmas.

Deixar-se levar pela raiva significa correr um maior risco de doenças do coração e de outras moléstias. A raiva é uma emoção poderosa. Raiva descontrolada pode conduzir a discussões, brigas e ofensas morais e físicas, pancadarias e até automutilações. Por outro lado, a raiva bem gerenciada pode se tornar uma emoção útil, capaz de motivar transformações positivas na pessoa.
Da mesma forma que o medo, a excitação nervosa e a ansiedade, o acesso de raiva desencadeia na pessoa uma “resposta de combate”, com farta produção dos hormônios do estresse. O cérebro desvia o fluxo sangüíneo que circula nas vísceras, transferindo-o para os músculos, preparando-os para a ação física. Os ritmos cardíaco e respiratório aceleram, a pressão e a temperatura sobem, a pele transpira. A mente pode tornar-se aguda e bem focada.

Muitas pessoas expressam a raiva de modo inadequado e perigoso; têm pouco controle de sua raiva e tendem a explodir em acessos de fúria que podem degenerar em agressões e violência física contra os outros ou contra si mesmos. A pessoa que não controla seu temperamento irascível tende a se isolar da família e dos amigos. A característica de muitos raivosos é, no entanto, a baixa auto-estima; eles costumam usar sua ira para manipular os outros e se sentir poderosos e importantes.


A pessoa que não consegue controlar o seu TEMPERAMENTO irascível tende sempre a se ISOLAR da família e dos amigos. Algumas pessoas consideram que a raiva é uma emoção “ruim” ou “inapropriada”, e fazem de tudo para suprimila. Mas, quando se tranca a raiva, ela tende a se transformar em depressão e ansiedade. Muitas vezes, pessoas que reprimem sua raiva tendem a projetála sobre alvos inocentes e indefesos, crianças ou animais domésticos.

É possível, no entanto, expressar a própria raiva de modo bem mais saudável. Por exemplo, se você for um raivoso e sentir que está perdendo o controle, afaste-se temporariamente da situação que o enraivece até que a cabeça e o coração esfriem. Reconheça e aceite essa emoção como uma componente normal da sua vida.

Tente descobrir quais as causas corretas e verdadeiras que lhe produzem raiva. Quando você identificar o problema, considere a possibilidade de usar estratégias diferentes para contornar ou remediar o problema. Pratique alguma atividade física, algum esporte, ou vá correr no parque.
A não ser em casos de graves patologias comportamentais, quando apenas a presença de um terapeuta especializado poderá encontrar algum caminho de solução, a maior parte dos casos de irascibilidade freqüente pode ser controlada.



É possível aprender a gerir o sentimento da raiva. Esse aprendizado é uma das provas mais importantes a ser superadas na escola da vida. Negar a raiva não impede a sua manifestação. Reprimi-la conduz inevitavelmente a somatizações. Manifestá-la provoca sentimento de culpa. Então, como gerenciar positivamente a raiva, e transformá-la em uma fonte de energia?

Um grupo de terapeutas italianos que se apresenta com o nome de Viviamo in Positivo (Viver positivamente, site: www.viviamoinpositivo. org) oferece um método para o controle da raiva conhecido como Método por Afirmações, cuja síntese é:

1) Tomar consciência da raiva

Perceba quais são as coisas que normalmente o fazem enraivecer. Você vai descobrir que todas elas têm a mesma raiz: a culpa.

Durante uma semana, no final do dia (ou no primeiro momento que estiver livre), escreva: “Hoje, me senti com raiva quando... porque...”

No fim da semana releia tudo aquilo que escreveu: observe as situações que lhe causaram raiva e sublinhe todas as que achar parecidas.

Responda para si mesmo as perguntas: O que, habitualmente, me enraivece? Me enraiveço mais comigo mesmo ou com os outros? Existe culpa nisso? A quem responsabilizo pela minha raiva? Terminada essa análise, passe para o segundo ponto:

2) Declaração de raiva – Primeiro método

Pegue uma folha de papel em branco e escreva uma carta de acusação, usando uma folha para cada situação ou pessoa que o fizeram sentir raiva. Escreva sem dó nem piedade, insultando, agredindo, “gritando”. Se você sente raiva de si mesmo, escreva uma carta a si mesmo.

Quando terminar de escrever todas as cartas: queime-as. Ao queimá-las, faça ecoar dentro de você a frase: “Eu escolho me livrar por completo do sentimento de raiva.”

3) Declaração de raiva – Segundo método


Quando encerrar sua jornada (ou em qualquer outro momento em que isso seja possível), examine os acontecimentos que estimularam o seu sentimento de raiva. Mantenha um travesseiro sobre os joelhos ou sobre um colchão. Para cada situação exprima a sua raiva dando socos sobre o travesseiro ou sobre o colchão. Se tiver vontade de chorar, chore, sem nenhuma trava ou impedimento.

Chorar faz bem e relaxa a tensão. Desafogue sua raiva o mais possível, permitindo que ela saia de você. Se puder (atenção aos vizinhos!) grite ou fale em voz alta, dizendo tudo aquilo que você sente. Quando perceber que já se desafogou o bastante, deite-se e passe à fase de integração (veja o item 5).

4) Declaração de raiva – Terceiro método

No final do dia (ou quando for possível), vá para um parque, um jardim, uma praça pública e corra, cerrando com força as mãos e golpeando o ar como um pugilista no treino, e imaginando, a cada golpe, que a raiva sai de você. Pare apenas quando se sentir bem descarregado.

Abrace ou encoste-se em uma árvore para absorver energia. Ou, se a possibilidade existe, deite-se sobre a grama ou a terra nua e procure absorver energia através da respiração.

5) Integração da raiva – Primeiro método

Sente-se comodamente numa poltrona, com a espinha dorsal o mais reta possível, ou então deite-se.

Respire lenta e profundamente, sem fazer pausas. Ao fazê-lo, relaxe mentalmente o corpo todo, dos pés à cabeça.

Quando o seu corpo estiver completamente relaxado, continue a respirar sem fazer pausas. Rememore mentalmente a sua jornada e, particularmente, uma ocasião em que você experimentou o sentimento da raiva.

Sempre sem interromper a respiração, observe onde está a sensação mais forte no seu corpo no momento em que pensa na raiva e permita a ela sair de você. Continue a respirar “sobre” a sensação e, enquanto o faz, repita mentalmente a afirmação: “Aceito esse sentimento e o transformo em energia: tudo isso é útil para a minha evolução.”



Continue aumentando ou diminuindo o ritmo da respiração até sentir uma sensação de paz interior e perceber que a sensação naquela parte do seu corpo desapareceu.

CHORAR faz bem e relaxa a tensão. Desafogue a sua raiva, permitindo que ela saia de você. Se puder, GRITE ou fale em VOZ ALTA tudo aquilo que você sente.

6) Integração da raiva – Segundo método

Para cada situação de raiva que você descreveu no papel, escreva uma lista das suas responsabilidades em relação a ela. Não se deixe influenciar pelo desejo de atribuir uma culpa, nem a si mesmo, nem às outras pessoas envolvidas. Assuma simplesmente as suas responsabilidades no processo de criação do sentimento de raiva.

Quando terminar a lista, pegue uma folha de papel em branco e escreva: “Posso escolher a paz em lugar de ... (escreva uma por uma todas as situações que você analisou e para cada uma repita a frase: Posso escolher a paz em vez de escolher...”

7) Integração da raiva – Terceiro método

Deite-se ou sente-se tranqüilo, coloque uma música relaxante, acenda uma vela se o desejar, feche os olhos e visualize a situação que, nos últimos tempos, mais o fez enraivecer. Mantenha os olhos fechados e a respiração calma. Comece a modificar a bel-prazer os personagens, a paisagem, a luminosidade, os sons, a distância até que a sensação interior mude por completo.

Por exemplo: se na visualização da situação de raiva você via o ambiente escuro, clareie-o. Se existiam vozes altas, troque-as por vozes baixas, apenas perceptíveis. Se você via a imagem a uma distância muito próxima, afaste-a; se a via em branco e negro, pinte-a com as suas cores preferidas.

Se você estava em posição de submissão, ponha-se em posição de ataque. Se estava calado, fale, e vice-versa. Faça uma mudança de cada vez, e observe como você se sente, se a sensação diminuiu ou mudou de alguma forma. Encerre o exercício quando experimentar uma sensação de bem-estar e quando a sensação de raiva tiver desaparecido por completo.

8) Integração da raiva – Quarto método

Se a sensação de raiva é ligada a uma pessoa, escreva a ela uma carta na qual você lhe explica tudo aquilo que sente. Use sempre a primeira pessoa (eu sinto, eu experimento, eu creio) e desafogue, mas sem insultar, procurando entender o ponto de vista da outra pessoa.

Você poderá escrever, por exemplo: “Senti raiva quando você..., mas acho que você fez aquilo porque...; tive vontade de..., e me pareceu que você...”

9) Integração da raiva – Quinto método

Tente fazer a seguinte experiência com duas cadeiras, sentando ora na sua cadeira, ora na cadeira da outra pessoa com a qual você teve um problema de raiva.

Quando estiver na cadeira “dela”, procure sentir profundamente o que ela pensou e por que deu aquela resposta ou se comportou daquele modo. Quando estiver na sua própria cadeira, faça emergir tudo aquilo que você queria dizer e não conseguiu.

Esse exercício serve para fazê-lo compreender que até mesmo aquilo que exprimimos em voz alta produz uma vibração que o outro percebe e a que, por sua vez, reage de modo mais ou menos inconsciente.

10) Integração da raiva – Sexto método

Tente perdoar. Antes de tudo, perdoar a você mesmo por ter se deixado levar pela raiva, por ter se sentido impotente, assustado, etc. Segure um espelho e, olhando-se nos olhos, repita:

“Fiz o melhor que podia naquela situação e com os meios de que dispunha. No futuro, farei um esforço para melhorar o mais possível, mas neste momento tudo está perfeito do jeito que está.”
Repita ou escreva a frase até que você esteja totalmente convencido. Em seguida, perdoe o outro e a própria situação. Sempre diante do espelho, repita:

“Eu lhe perdôo... não aprovo o seu comportamento, mas sei que você fez aquilo que podia, com os recursos de que dispunha e com o conhecimento que possui. Escolho abandonar o rancor por você, e liberto a nós dois, a mim e a você.” Repita ou escreva até estar convencido. O perdão é um ato liberatório, cujo efeito benéfico se reflete sobre nós.

Depois do perdão, permaneça em silêncio, numa posição cômoda, ligado à energia infinita, visualizando uma luz cor-de-rosa no centro do seu coração. Imagine que essa luz toma a forma de uma flor de lótus que se abre a cada inspiração e se fecha a cada expiração.


Pense intensamente no amor, relembrando com alegria uma ocasião em que você amou ou foi amado e permaneça vivendo essa lembrança o maior tempo possível. Lembre-se que a raiva que você sente é uma prova do fato de que você não se comunica corretamente com os outros.

Reconhecendo isso, você poderá adotar uma mudança de comportamento. Você está completamente livre para escolher a paz ou a guerra. Reconhecer isso e agir de maneira coerente com a sua escolha depende unicamente de você.

REVISTA PLANETA

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