por Téta Barbosa
Adorei esse texto e espero que curtam também.
Eu olindo, tu olindas, ele olinda. Nos domingos, nós olindamos.
Descobri que Olinda era verbo quando dei uma carona para o músico
Erasto, irmão do percussionista Naná Vasconcelos. O irmão menos famoso do clã
dos Vasconcelos escolheu a cidade alta para passar seus dias. Por lá escreveu o
guia “das Olindas” que diz assim:
“Subi Mercado da Ribeira
Desci largo de São Bento
No largo do Varadouro
Na Praça do Jacaré
Desci largo de São Bento
No largo do Varadouro
Na Praça do Jacaré
Afoxé, afoxé
Olinda mandou me chamar”
Olinda mandou me chamar”
E, enquanto cantarolava no carro durante a carona, avisou: “pode me
deixar nos Quatro Cantos mesmo, estou precisando Olindar”.
E como não amar a única cidade no mundo onde um McDonald’s faliu?
Olinda é mesmo uma cidade estranha. E isso me faz lembrar um causo,
passado numa segunda-feira chuvosa num bar da cidade histórica. E esse conto,
caro leitor, não se passou com a amiga da prima da minha sogra, não. Foi comigo
mesmo que aconteceu, por isso posso atestar de pés juntos, a estranheza do
acontecido.
Lá estávamos nós, amigos boêmios, numa festinha regada a jazz na sede da
Pitombeira (bloco famoso nos dias de Carnaval). Entre uma música e outra, rolou
um zum zum zum, à boca miúda, de que naquela mesma festinha estava Matt Dillon
(ator famoso das bandas de Hollywood).
- Matt quem? É aquele que fez Supremacia Bourne?
- Não, é o do filme Crash, no Limite. Aquele do Oscar,
pô.
Passada a confusão para diferenciar Matt Dillon de Matt Damon (americano
é tudo igual) e Brad Pitt de Tom Cruise (que no calor na discussão, entraram na
conversa sem ter nada a ver com o assunto), confirmamos a presença do famoso no
local. Sim, era ele.
A notícia, que tinha potencial para se transformar em euforia,
autógrafos e briga por fotos em qualquer lugar do mundo, parou por aí. É de
Olinda que estamos falando, afinal de contas. Ninguém, repito, ninguém no
recinto abordou o cara. Matt ficou lá; sozinho, carente.
O desprezo pelo moço chegou a tal ponto que ele teve que tirar fotos
dele mesmo no balcão do bar. Deu até pena (dó, na linguagem do Sul, porque quem
tem pena é galinha). Mas a atitude blasé dos olindenses dizia “Pra que Matt se
a gente tem Erasto?”. Que mais além se transforma em “pra que McChicken, se
aqui tem tapioca?” ou “pra que badalar, se a gente pode Olindar”?
O fato, meus amigos, é que Olinda não é uma cidade, é um estado de
espírito. E ai dos turistas que passam rápido demais, tiram fotos demais,
compram bugingangas demais e nem têm tempo de conjugar o verbo Olindar. Desses
dá pena, de verdade.
Téta Barbosa é jornalista,
publicitária, mora no Recife e vive antenada com tudo o que se passa ali e fora
dali. Escreve aqui sempre às segundas-feiras sobre modismos, modernidades e
curiosidades. Ela também tem um blog - Batida Salve
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