30 de dezembro de 2012

o Loiro


Era tarde quando você apareceu. Cabelos louros, curtos, olhos verdes como esmeralda e voz amadeirada. Um menino quase homem. Uniforme azul e branco de escola. Queria os meus serviços. Insistiu mesmo dizendo-lhe que não, que causaria problemas se alguém descobrisse. Durante uma semana veio todos os dias.

A escola ficava há uma quadra do meu apartamento. Da varanda via você chegando. A campainha tocava e meu coração pulava. Meu corpo desejava o seu. Quando abri a porta não falamos nada. Minha boca encontrou a sua e acabamos nos unindo. Seu rosto imberbe, quase infante, quase aner. Despia o uniforme enquanto meu corpo queimava. Fizemos amor. Não sexo, mas amor de verdade.

Desejava mais que ao dinheiro. Não queria que pagasse. A única coisa que eu desejava é que retornasse todos os dias. Todos os dias ao meio-dia a campainha tocava, fazíamos amor, conversávamos e tudo voltava ao normal. Você ia embora e eu continuava a atender meus clientes.

Um dia chegou aqui, barba mal feita, calça e camisa social, pediu-me em matrimônio. Não tive reação. Queria rir, queria dizer sim, mas não era certo. O que iriam falar? Seus pais, a sociedade, os amigos. Mesmo querendo gritar afirmativamente eu disse não porque era o certo. Nossas lágrimas, seus gritos, a indignação no seu rosto e seu corpo no chão da calçada. Pensaram que eu havia lhe jogado. Meu amor. Após aquele dia passei o restante a minha vida na cadeia. Até estar aqui nesse túmulo fétido, deixando-me ser devorada pelos insetos.