Era tarde quando você apareceu. Cabelos louros, curtos, olhos
verdes como esmeralda e voz amadeirada. Um menino quase homem. Uniforme azul e
branco de escola. Queria os meus serviços. Insistiu mesmo dizendo-lhe que não,
que causaria problemas se alguém descobrisse. Durante uma semana veio todos os
dias.
A escola ficava há uma quadra do meu apartamento. Da varanda
via você chegando. A campainha tocava e meu coração pulava. Meu corpo desejava
o seu. Quando abri a porta não falamos nada. Minha boca encontrou a sua e
acabamos nos unindo. Seu rosto imberbe, quase infante, quase aner. Despia o
uniforme enquanto meu corpo queimava. Fizemos amor. Não sexo, mas amor de
verdade.
Desejava mais que ao dinheiro. Não queria que pagasse. A
única coisa que eu desejava é que retornasse todos os dias. Todos os dias ao
meio-dia a campainha tocava, fazíamos amor, conversávamos e tudo voltava ao
normal. Você ia embora e eu continuava a atender meus clientes.
Um dia chegou aqui, barba mal feita, calça e camisa social,
pediu-me em matrimônio. Não tive reação. Queria rir, queria dizer sim, mas não
era certo. O que iriam falar? Seus pais, a sociedade, os amigos. Mesmo querendo
gritar afirmativamente eu disse não porque era o certo. Nossas lágrimas, seus
gritos, a indignação no seu rosto e seu corpo no chão da calçada. Pensaram que
eu havia lhe jogado. Meu amor. Após aquele dia passei o restante a minha vida
na cadeia. Até estar aqui nesse túmulo fétido, deixando-me ser devorada pelos insetos.
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