- No meu tempo as moças não faziam
isso não. A gente namorava com os olhos. Um arrepio, se o menino
olhasse de volta. Não vou dizer que não pensávamos em sacanagem.
Pensávamos e muito. Mas era diferente. As cuecas eram em outro
formato e quando saíamos para as lojinhas ficávamos imaginando
aqueles meninos vestindo aquele pedaço de pano, não esse shortinho
boiola que os homens usam hoje em dia.
- Que nada. Eu era bem safadinha.
Lembro muito bem a primeira vez que vi um piru. Meu quarto tinha
janela que dava pra rua e uma vez o menino não aguentou e foi fazer
xixi. Eu ficava escondida e deixava apenas uma fresta para poder
espiar. Achava engraçado ele sacudindo.
- A primeira vez que eu vi um pinto foi
o do meu pai. Era nojento. Mole, grande e cabeçudo. Mamãe tinha uma
falta de gosto. O pinto que eu mais gostei de ver foi o do Paulinho.
- Aquele seu namoradinho?
- Sim. Era branquinho e com a pontinha
rosa. Mas fiquei com medo de pegarem a gente atrás da árvore. Eu
gostava de admirar.
- Você só ficava olhando? Se fosse eu teria feito tanta coisa com ele.
- Mas eu fiz! Não conte isso a
ninguém: eu coloquei na boca. Não perdi a virgindade, pois ia
ter problemas no casamento e poderia engravidar. Foi tão bom. Quase
matei o menino do coração. Levei tempo pra entender que não podia
bater nos dentes.
- E você bebeu? Ai que nojo.
- Vai me dizer que você nunca bebeu?
- Nunquinha.
- Pois é muito bom. Essa juventude de hoje não sabe
aproveitar nada. Essas moças não sabem se preservar. Saem com todo
mundo, mostram a bunda pra todo mundo.
- É mesmo. A filha da vizinha se
perdeu, você soube?
- Menina, não me diga? Tão
bonitinha... E quenga. Invés de esperar.
- É por isso que eu sempre digo pra
Rita: “Rita tu sai da janela que as moças desse lugar nem se
demora donzela, nem se destina a casar”