Dizem que quem canta seus males espanta. Se a premissa é verossímil, cantarei eternamente. Tenho tanto medo agora que até a brisa me leva ao caos. Estou um pânico de novo. Vou aos ares. Desço tão rápido... Em queda livre.
Esfarelo-me ao chão, nu e só. Como nada aos olhos da multidão. A chuva corta minha pele como um ácido, escorre imponente sobre guarda-chuvas e encalha em mim. Ela me traz paz, me transforma em outro ser. Passo de mutante à gente. Crio decência, deixo de lado a demência.
Tudo muda menos o medo. Ele se vai, mas volta forte e soberbo. Derrama em mim suas intenções negativas. Minha mente continua em pânico, mas não posso fazer nada. Sirenes de guerra internas berram aos meus ouvidos. Eu choro. Imploro a paz em minhas entranhas tão estranhas que nem eu as conheço. Desfaleço e esqueço de mim, na minha paz perdida no espaço da minha vontade.
Sou uma incógnita, um vento atônito. Uma gota de chuva, no oceano. A voz que sussurra, que grita sorrateira no deserto. Eu sou o indesvendável.