22 de novembro de 2010

Auto Descoberta


Dizem que quem canta seus males espanta. Se a premissa é verossímil, cantarei eternamente. Tenho tanto medo agora que até a brisa me leva ao caos. Estou um pânico de novo. Vou aos ares. Desço tão rápido... Em queda livre.
                Esfarelo-me ao chão, nu e só. Como nada aos olhos da multidão. A chuva corta minha pele como um ácido, escorre imponente sobre guarda-chuvas e encalha em mim. Ela me traz paz, me transforma em outro ser. Passo de mutante à gente. Crio decência, deixo de lado a demência.
                Tudo muda menos o medo. Ele se vai, mas volta forte e soberbo. Derrama em mim suas intenções negativas. Minha mente continua em pânico, mas não posso fazer nada. Sirenes de guerra internas berram aos meus ouvidos. Eu choro. Imploro a paz em minhas entranhas tão estranhas que nem eu as conheço. Desfaleço e esqueço de mim, na minha paz perdida no espaço da minha vontade.
                Sou uma incógnita, um vento atônito. Uma gota de chuva, no oceano. A voz que sussurra, que grita sorrateira no deserto. Eu sou o indesvendável.

Surto


Parece que vou surtar. Cada vez que eu olho pra mim não me reconheço. Onde me perdi de mim? Depois de um bem estar vem a tempestade novamente. Tudo volta outra vez.
Minha alma grita por respostas. Faço tantas perguntas que me perco em tantas interrogações. Como se controla as paixões? O que é preciso para dominar o próprio coração? Onde vou parar? Será que vou definhar até morrer?
Há tantas pessoas. Boas ou más. Quem sou eu? Sou bom ou ruim? Eu nunca vou encontrar tais respostas. Eu procuro pessoas. Clamo por abraços, mas tudo o que tenho é o silêncio. Eu amo sem ser amado. Desejo sem ser desejado. Quero apenas nada que tenho.

Por toda a vida

   
             A menina chora desesperada. Sua mãe foi levada pelos militares. Com certeza será torturada. Um grupo de jovens armou um golpe, mas há um traidor entre eles. Tiros vão-se a todos os lados. Homens sangrando, mulheres gritando, crianças chorando, pastores e padres orando. Há uma guerra com armas de fogo e estamos bem no meio dela. A rua treme ao passo da multidão. Um tiro cava um buraco no braço da pequena menina. A mãe grita desesperada.
                —Um médico! Por favor, alguém me ajude!
                Ela entra em pânico. Um soldado ordena que ela mesma pegue o corpo da menina e carregue. O hospital pode esperar. E a criança principalmente. Sentir dor faz bem à saúde, torna o ser humano mais resistente às circunstâncias e crises.
                A pequena já não chora, não grita. Está desmaiada. Pelo menos é nisso que acredita a sua mãe. Porque na verdade, seu espírito já não está mais junto ao seu corpo. Seu sangue secou. Porque era uma menina. Porque não era ninguém para a sociedade.
                A notícia da morte provocou muito mais dores que as chibatadas da tortura. Pés e pernas quebrados. Ossos quase moídos. Três dedos da mão direita foram arrancados. A visão do olho esquerdo foi-se embora quando levou um soco do carrasco. Já não havia lágrimas para chorar. E após cortarem sua língua, deixaram-na ir. Para que não contasse nada e que tivesse em sua memória o poder do Estado. Por toda a vida.

Comédia Romântica


Era para ser só mais um dia
A rua, o ônibus, casa, escola
Parei para esperar sua ausente presença
Tudo volta, tudo se repete
Estou eu novamente esperando outro amor passar

Tento buscar a felicidade
Cazuza ao meu ouvido grita:
“Caia na realidade,
Só as mães são felizes”
Triste ilusão, outra decepção

Olho tanta gente, esperando você chegar
O ponto de ônibus ainda está no lugar
No lufar em que a gente deixou
Onde a gente deixou o nosso amor

Nossa comédia romântica não tem final feliz
Não tem casamento, ninguém pede bis
A minha garrafa com o mapa nunca chegou à praia
Mas quem se importará?

Não sou feliz, mas sei amar
Sei decolar em abraços
Isso ninguém vai me roubar

21 de novembro de 2010

Dardos --------->


Fui indicado pela Wally, do Reflexões Borderline ao Prêmio Dardos. Devo então escolher alguns Blogs para premiá-los (o que devo fazer em breve pois estou sem tempo - tenho que correr rsrsrs). E vou também cumprir uma promessa feita. Aqui está o selinho que prometi para o Reflexões Borderline.


2 de novembro de 2010

Até os poetas morrem

Todo poeta desbrava na sua loucura a insanidade da lucidez. Todos, sejam ricos ou pobres, são como uma luz que irradia na escuridão. Todos polêmicos, às vezes ingênuos. Todos assim como crianças de colo que nunca saíram do Neverland ou que ainda cantam a mesma canção, aos 30 anos de idade no colo de suas mães.

Eu sou assim. “I’m alone” como Michael Jackson, sou doido como Cazuza, escondido em um Codinome Beija-flor. Sou leve e intenso como a bela Clarice, desbravador da intransitividade do verbo amar como Mario de Andrade. Sou eu mesmo, igual em diferentes facetas. A imagem mais real feita pela escrita da luz.

Todo poeta chora de amor. Ama muito. É amado por todos, mas sempre está só. Sua felicidade é intensa por alguns segundos e a busca pela droga-sentimento dura o resto da vida, até que a morte beije-lhe os pés. Até que tudo seja póstumo. Sim, os poetas morrem. Mas não descansam em paz. Eles permanecem vivos na mente das pessoas. Mas nunca encontram a paz.