22 de novembro de 2010

Por toda a vida

   
             A menina chora desesperada. Sua mãe foi levada pelos militares. Com certeza será torturada. Um grupo de jovens armou um golpe, mas há um traidor entre eles. Tiros vão-se a todos os lados. Homens sangrando, mulheres gritando, crianças chorando, pastores e padres orando. Há uma guerra com armas de fogo e estamos bem no meio dela. A rua treme ao passo da multidão. Um tiro cava um buraco no braço da pequena menina. A mãe grita desesperada.
                —Um médico! Por favor, alguém me ajude!
                Ela entra em pânico. Um soldado ordena que ela mesma pegue o corpo da menina e carregue. O hospital pode esperar. E a criança principalmente. Sentir dor faz bem à saúde, torna o ser humano mais resistente às circunstâncias e crises.
                A pequena já não chora, não grita. Está desmaiada. Pelo menos é nisso que acredita a sua mãe. Porque na verdade, seu espírito já não está mais junto ao seu corpo. Seu sangue secou. Porque era uma menina. Porque não era ninguém para a sociedade.
                A notícia da morte provocou muito mais dores que as chibatadas da tortura. Pés e pernas quebrados. Ossos quase moídos. Três dedos da mão direita foram arrancados. A visão do olho esquerdo foi-se embora quando levou um soco do carrasco. Já não havia lágrimas para chorar. E após cortarem sua língua, deixaram-na ir. Para que não contasse nada e que tivesse em sua memória o poder do Estado. Por toda a vida.

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