Uma jovem belíssima corre pelo convés
do navio mais luxuosos de que se tem notícia. No caminho, esbarra em
algumas pessoas esnobes, cheias de dinheiro. A respiração ofegante
e as lágrimas nos olhos. Ela segue à popa do navio. O convés finalmente termina em uma grade que separa a jovem do infinito. A
morte nunca foi tão desejada. Enquanto seu corpo ultrapassa os
limites da proteção, sua mente suicida grita. Grita o que queria
ser e não foi. Os jantares finos, cheios de conversas fiadas,
pessoas impecavelmente bonitas e desprovidas de quaisquer
infelicidades. De repente se vê em uma mesa cheia de vestidos e
paletós, sorridente, como se dominasse a felicidade ao seu dispor.
Sorri enquanto a dor a tortura. É uma tortura oriental lenta e
sorrateira. O fim é logo ali, depois da popa.
Já me senti assim algumas vezes. Vezes
tais em que as lágrimas não são suficientes para fazer sair a dor
que ecoa na alma. E enquanto se desespera, o sorriso não sai dos
lábios. É preciso dizer que tudo é perfeito. Uma aparência
alegórica. Há algo podre em cada um de nós, que em seus carros
luxuosos e suas casas seguras não se pode ver.
Se eu beber até a morte ninguém vai
perceber. Talvez não houvesse dor. E quem se importaria com a dor
de quem tem tudo o que se pode sonhar. A grama do vizinho só é mais
verde vista de um dos lados do arco-íris. De perto é podada
irregularmente. Feia. No fundo todos somos suicidas, só não temos
coragem para isso.
Engraçado, estou assistindo essa cena agora o.O e me deparo com esse texto!
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