Se você vive em uma cidade com o desenvolvimento um pouco
acima da média, com direito à poluição, congestionamentos, assaltos e toneladas
de lixo nas ruas, certamente já passou pela incrível e sociológica experiência
de entrar em um ônibus. Para quem não sabe do que se trata, é uma espécie
transporte para seres humanos e seus acessórios. Falando assim parece algo
muito simples e banal, todavia, entrar em um ônibus pode mudar completamente a
vida de uma pessoa.
Estando em um desses, você descobre que eles podem ser uma
espécie de buraco negro. Entram pessoas, e mais pessoas, e mais pessoas, e
junto com mais pessoas, os seus acessórios. Bolsas de viagem, animais e coisas
comuns não entram nesta lista, já que falo de coisas realmente lógicas de se
levar em um ônibus. Refiro-me precisamente à móveis, tv’s de pequeno calibre
(42 polegadas, por exemplo), materiais de construção, colchões, geladeiras,
janelas, plantas e bancos de automóvel. E se a sua rota corta algum
supermercado com promoções de desinfetante por R$1,99, vai se deparar com
pessoas carregando mais desinfetantes que o seu próprio peso, afinal, todos
precisamos de muitos vidros de desinfetante para sobreviver, não é mesmo?
Se você vive no Rio de Janeiro, vai encontrar nos ônibus um
espécime intitulado “nem”. De antemão, é preciso exclarecer que não apresentam
nenhuma ligação com o ex-lider do trafíco da Rocinha (até que se prove o
contrário, claro). Essas pessoas, geralmente entre 12 e 25 anos, de ambos os
sexos, carregam consigo peculiaridades no linguajar e no comportamento. Tratam
as pessoas com que não apresentam intimidade por “Nem” ou “Colega” e andam sempre com alguma
aparelho que emita vibrações sonoras. Ultimamente popularizou-se entre os nens
o rádio Nextel, celulares chineses e caixas de som chinesas que podem ser
compradas na internet ou na Uruguaiana e sempre transformam a tranquila viagem
de ônibus em um baile funk coletivo, afinal para que serve fones de ouvido, não
é mesmo?
Os ônibus apresentam uma interessante possibilidade de
provar que dois corpos (e até cinco, por que não?) podem ocupar o mesmo lugar
no espaço. Cabem pessoas em baixo dos bancos, nas janelas, nas escadas,
penduradas nos ferrinhos etc. Somado a isso sempre há a capacidade de se
introduzir mais pessoas especialmente se for idosos e pesssoas com crianças de
cola que viram claramente que o transporte estava cheíssimo e mesmo assim
querem um lugar.
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