Rio de Janeiro,
2013, século XXI, internet 4G (ou quase), transporte público
ultramoderno, tecnologia de ponta nas casas de toda a população,
educação batendo recordes de sucesso escolar e hoje me deparo com
esta cena anacrônica, descabida pelo avanço dos nossos tempos. Em
plena Rio Branco, desce uma senhora com três filhos (um menino e
duas meninas) de um ônibus superconfortável (desses que só o Rio
de Janeiro tem). A mulher bem arrumada acomodou os filhos na calçada,
desarrumou os cabelos, passou um pouco de terra nas maçãs do rosto
e começou: “Moço! O senhor pode me ajudar com um real? Moço!”.
De início, achei
excelente a ideia: uma encenação teatral em via pública. A cidade
respira cultura e isso é uma inovação. Quase aplaudi o espetáculo.
A peça era tão boa que alguns transeuntes interagiam e
entregavam-lhe moedas e até algumas notas. De repente, esfrega algo
nas ventas do menino (presumo que era pimenta do reino), que escarra
a meleca e pendurada fica para que desse mais realidade ao roteiro.
Uma senhora passa e
diz: “Vá trabalhar!”, recebendo como revide algo que não me
permitirei escrever aqui. As crianças juntaram-se ao coro: “Moço!
O senhor pode me ajudar com um um real? Moço!”. Se alguém os
ignorava, uma barulhera tomava conta do ambiente. Deduzi que aquilo
fazia parte do processo catártico e que deveria ser
impressionantemente realistíco.
Algumas moedas
depois a mulher retirou da bolsa uma toalha mais branca que o
uniforme do papa, limpou o rosto e as crianças. Penteou os cabelos e
tomou o próximo ônibus. Achei que veria os atores curvarem-se em
agradecimento no final da peça. Nem o diretor apareceu. Acho que não
era um peça. Mas onde já se viu usar a rua como se fosse a sua
copa, e ainda por cima pedir dinheiro como se fossemos obrigados a
dar. Não adianta reclamar, dizer que não tem emprego. A Dilma
solucionou todos os nossos problemas e junto com o Sérgio Cabral e o
Eduardo Paes fizeram o Rio melhorar.
-Alfredo!!!! Acorda!
Tá na hora de tomas o seu remédio.
-Ãh? O quê?...
Ahhh velha chata...
-Aproveita que esse
é o último.
-Você não comprou
mais?
-Fiz as compras do
mês. Acabou o dinheiro.
-Vou ao banheiro.
-Vai como? Esqueceu
que você não anda e que não sai desse quarto há anos?
-Mas e a senhora com
os filhos pedindo dinheiro?
-Você sonhou, meu
filho.
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