16 de junho de 2013

A Copa da Casa

Rio de Janeiro, 2013, século XXI, internet 4G (ou quase), transporte público ultramoderno, tecnologia de ponta nas casas de toda a população, educação batendo recordes de sucesso escolar e hoje me deparo com esta cena anacrônica, descabida pelo avanço dos nossos tempos. Em plena Rio Branco, desce uma senhora com três filhos (um menino e duas meninas) de um ônibus superconfortável (desses que só o Rio de Janeiro tem). A mulher bem arrumada acomodou os filhos na calçada, desarrumou os cabelos, passou um pouco de terra nas maçãs do rosto e começou: “Moço! O senhor pode me ajudar com um real? Moço!”.

De início, achei excelente a ideia: uma encenação teatral em via pública. A cidade respira cultura e isso é uma inovação. Quase aplaudi o espetáculo. A peça era tão boa que alguns transeuntes interagiam e entregavam-lhe moedas e até algumas notas. De repente, esfrega algo nas ventas do menino (presumo que era pimenta do reino), que escarra a meleca e pendurada fica para que desse mais realidade ao roteiro.

Uma senhora passa e diz: “Vá trabalhar!”, recebendo como revide algo que não me permitirei escrever aqui. As crianças juntaram-se ao coro: “Moço! O senhor pode me ajudar com um um real? Moço!”. Se alguém os ignorava, uma barulhera tomava conta do ambiente. Deduzi que aquilo fazia parte do processo catártico e que deveria ser impressionantemente realistíco.

Algumas moedas depois a mulher retirou da bolsa uma toalha mais branca que o uniforme do papa, limpou o rosto e as crianças. Penteou os cabelos e tomou o próximo ônibus. Achei que veria os atores curvarem-se em agradecimento no final da peça. Nem o diretor apareceu. Acho que não era um peça. Mas onde já se viu usar a rua como se fosse a sua copa, e ainda por cima pedir dinheiro como se fossemos obrigados a dar. Não adianta reclamar, dizer que não tem emprego. A Dilma solucionou todos os nossos problemas e junto com o Sérgio Cabral e o Eduardo Paes fizeram o Rio melhorar.

-Alfredo!!!! Acorda! Tá na hora de tomas o seu remédio.
-Ãh? O quê?... Ahhh velha chata...
-Aproveita que esse é o último.
-Você não comprou mais?
-Fiz as compras do mês. Acabou o dinheiro.
-Vou ao banheiro.
-Vai como? Esqueceu que você não anda e que não sai desse quarto há anos?
-Mas e a senhora com os filhos pedindo dinheiro?
-Você sonhou, meu filho.

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