30 de agosto de 2010

O raio e o abraço


A Pequena criança olhava atônita a cena. Pupilas dilatadas, o ar entrava rarefeito em seus pulmões. Os raios que a acordaram já não a assustam mais. Seus cabelos lisos estavam encharcados pela chuva.

Tudo começara com um barulho no meio da madrugada. O quarto da menina fora visitado por uma rachadura imensa na parede. O chão tremia muito. A água começou a entrar no quarto. A pequena criança assustada grita o medo em sua voz. A casa humilde no alto do morro tremia como um avião em turbulência.

A mãe da criança corre pelo corredor. A rachadura da parede agora caminha pelo chão. Ela caminha rápido. Mais rápido que a mãe. A turbulência para. Mãe e filha encontram-se no último abraço. A rachadura some quando a parte frontal da casa despencou todos os andares que correspondiam o morro. O abraço não existe mais. A menina ainda permanece no alto do morro vendo sua mãe desmaiada com o tamanho de uma formiga.

A menina grita. Chora. Sua mãe está morta. Não há como sair dali. Entra em desespero, em pânico. Deseja mais que tudo sair. Ela se joga. As gotas da chuva são eletrizadas pelo raio. A menina morre antes de chegar ao chão. O corpo já carbonizado encontra o de sua mãe num abraço eterno.

A mãe desmaiada ainda respirava. Mas seus pulmões esvaziaram-se quando o que sobrou da casa veio abaixo, sobre o seu corpo repleto de fraturas. Esse foi o fim de uma família que ninguém se lembrará. Uma incógnita da simples equação da sociedade que ninguém fará questão de resolver.

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