25 de janeiro de 2012

Novos Cubangos



É uma grande pena sermos a sexta maior economia do mundo e ainda tão bárbaros quanto ao trato para com as pessoas. Seja em São Paulo, no Rio ou em Salvador o que encontraremos é um rastro de impunidade e corrupção. Sempre detestei o MST e sou radicalmente contra a invasão de propriedades privadas, todavia, quando falamos de terras que estão a esmo esperando a próxima era mesozoica para serem ocupadas, a situação torna-se completamente diferente.

Sempre aprendi nas aulas de geografia (que particularmente gostava muito) que o Brasil poderia ser considerado um país populoso, porém, não um país povoado, uma vez que a distribuição e a ocupação de terras eram irregulares. E enquanto isso, há pessoas que precisam de um teto e um terreno para sua subsistência.

Como se já não bastasse, a polícia paulista acredita que os Pinheirinhos são uma espécie de burros de carga que são facilmente controlados. Já não é de hoje que o desrespeito por parte da polícia militar do estado de São Paulo é um triste fato social, patologicamente deprimente, ou acha mesmo, caro leitor, que toda aquela confusão generalizada na Usp foi por maconha? A imprensa realmente é muito talentosa, ouso dizer que podem até escrever capítulos de nossos livros didáticos tão bem quanto os ditadores que tivemos.

A ação, segundo o governo de São Paulo, é legítima. Pergunto-me como pode ser aparado pela lei exorcizar de casa pessoas que não tem pra onde ir. E desta maneira sequer permitir que singelos objetos pessoais como porta-retratos sejam retirados das casas prestes a virar ruínas. E para onde irão estas pessoas? Para o mesmo abrigo dos desabrigados do Morro do Bumba? Ou será que a endinheirada Pernambuco irá recebê-los de bom coração. Ou ainda, quem sabe, o BBB. Estamos voltando ao império. Há de se esperar que os Cubangos voltem à moda e que barris com imensas quantidades de excremento jorrem do alto das casas. Só espero que “o amor seja eterno novamente”.

24 de janeiro de 2012

Curiosamente curioso


Como faz um tempo que não faço uso do meu poder de Bloggar sobre assuntos cotidianos, hoje quero falar sobre o quão curiosos podem ser os habitantes do Brasil. O emprego desse adjetivo tão peculiar refere-se ao aspecto incomum da palavra, sim, pois num país onde obrigatoriamente todos os anos uma mulher aparece nua nas nossas tv’s (e agora em alta definição) é no mínimo curioso que um programa como o BBB levante tanta cybereuforia – diga-se de passagem altamente estressante.

Primeiro, estudos recentes feitos por universidades inglesas revelaram que um indivíduo alcoolizado possui completa autonomia sobre os seus atos, o efeito da embriagues apenas o encoraja a praticar atos com mais liberdade. Portanto, essa desculpa de que “estava bêbado” não vai rolar. Afinal, nós teríamos que expurgar das cadeias brasileiras os infelizes motoristas bêbados e os homens injustiçados por agredirem suas mulheres quando chegam em casa alcoolizados, já que estava bêbados, não?

Soma-se a isso interessante fato de que é no mínimo curioso que em um lugar cheio de câmeras monitoradas uma pessoa estuprada não tenha nenhuma reação e ninguém conseguiu perceber isso? Realmente o amor é lindo!

Todavia, o mais absurdo que ouvi foi a acusação de racismo. Afinal, negros não podem ser presos (mesmo se penetrarem com o membro alguém que não pode reclamar ou se defender) porque isso é racismo. Do mesmo modo, não se pode prender gays porque é preconceito, ou pessoas de candomblé porque é perseguição religiosa. Pelo menos serviu pra botar moral nessa “porra”, já que só assim a ministra resolveu trabalhar. Aos demais sugiro que me tomem por exemplo, quando acabar a novel peguem um bom livro para ler, bebê.


Bye!

15 de janeiro de 2012

O Poder Mais Grandioso Que Existe


O poder mais grandioso que existe não se encontra em jazidas de urânio para bombas ou na hegemonia americana. Sequer pode ser equiparada a divindades de todas as religiões pensáveis. Não há nada mais grandioso na terra do que a Catarse, que nada mais que um nervoso que nos toma enquanto apreciamos uma arte, seja ela de que espécie for.

 Enquanto discute-se uma forma de dominar o mundo através do petróleo, pessoas e mais pessoas fingem frieza e enxugam seus rostos antes da saírem do cinema. Ao mesmo que outras mais param as leituras de seus livros para refletir a realidade dos fatos e voltar a si. Telas e mais telas tentam ser compreendidas por admirados de seus pintores. A música toma o ar de muitos lugares. A mãe da noiva sempre chorar ao ouvir a marcha nupcial.

Através da arte o mundo pode não ser controlado. Discute-se até hoje a capacidade dos animais se emocionarem. Mas é fato de que o ser humano foi agraciado com a catarse. Na verdade, só sabemos dela por que Aristóteles a desvendou. Imagino que descobriríamos com o livro perdido da Comédia.

Nos resta emocionarmo-nos com tudo isso.

10 de janeiro de 2012

Linha Tênue



Linha Tênue
Maria Gadú

Todo o lugar que chego você não fica
Tudo o que eu te peço você não dá
Se dou opinião você implica
Toda vez que ligo você não está
Por que fazer questão deste jogo duro?
De me mostrar o muro a nos dividir?
Seu coração de fato está escuro
Ou por de trás do muro
Tem mais coisa aí

Toda vez que passo você não nota
Eu conto uma lorota você nem ri
Me faço fina flor vem e desbota
Me boto numa fria não socorre
Eu cavo um elogio isso nem te ocorre
A indiferença escorre fria a me ferir
Será porque você não me suporta?
Ou dentro desta porta
Tem mais coisa aí

Entre o bem e o mal a linha é tênue meu bem
Entre o amor e o ódio a linha é tênue também
Quando o desprezo a gente muito preza
Na vera o que despreza é o que se dá valor
Falta descobrir a qual desses dois lados convém
Sua tremenda energia para tanto desdém
Ou me odeia descaradamente
Ou disfarçadamente me tem amor

Toda vez que passo você não nota
Eu conto uma lorota você nem ri
Me faço fina flor vem e desbota
Me boto numa fria não socorre
Eu cavo um elogio isso nem te ocorre
A indiferença escorre fria a me ferir
Será porque você não me suporta?
Ou dentro desta porta
Tem mais coisa aí

Entre o bem e o mal a linha é tênue meu bem
Entre o amor e o ódio a linha é tênue também
Quando o desprezo a gente muito preza
Na vera o que despreza é o que se dá valor
Falta descobrir a qual desses dois lados convém
Sua tremenda energia para tanto desdém
Ou me odeia descaradamente
Ou disfarçadamente me tem amor

8 de janeiro de 2012

A noite de Amy (continuação p.2)


Seus olhos só se mexeram quando já era noite. Subiu as escadas e foi tomar um banho. Olhou-se pelo espelho e sentiu que nunca esteve mais suja. Começou a despir o vestido rasgado nos ombros. Viu as marcas no pescoço ainda mais vermelhas que antes. Teve vergonha e muita vontade de chorar. O que os vizinhos iriam pensar? O que sua mãe iria pensar? A lembrança da mãe cantarolando uma canção de ninar repousou sobre sua mente. Ela sempre o fazia quando Amy tinha uns seis ou sete anos. Arrancou a roupa íntima. Seus olhos pousaram sobre a genitália e sem mais pensar em nada deixou que a água morna caísse sobre o seu corpo.

Enxugou os cabelos lisos com mais cuidado que o resto do corpo. Fez uso de um creme íntimo e colocou uma camisola sobre o lingerie. Caminhou até o corredor. As lembranças ainda enchiam sua mente. Por um momento fechou os olhos e não os conseguia abrir. Tudo continuava escuro em um breu infinito. Percebeu, então, que não era um sonho e que a energia se fora, não só na sua casa, mas em todo o bairro. Niterói sempre teve esses problemas no verão. Amy tateou pelo caminho que já conhecia, até chegar ao quarto e se ajeitar na cama. Apesar de ter dormido o dia todo sua mente continuava cansada. Desejou subitamente não existir. Antes de adormecer sua mente vagueou pelos lugares em que poderia se jogar, fazendo com que seu corpo se separasse da alma. Concordou consigo mesmo que a janela do quanto não seria suficiente, já que estava no segundo andar. Pensou em uma das janelas do Niterói Shopping, lá sim não haveria dúvida, já que o arranha-céu era o prédio mais alto da cidade. Concluiu em seguida que seria difícil entrar em qualquer um dos escritórios da torre sem produzir suspeitas.

Seus olhos se fecharam, contudo uma luz iluminava o seu quarto. Deduziu que a energia retornara, sem questionar se havia deixado a lâmpada acesa. Levantou da cama tão bem disposta que nem parecia estar tomada de tanto sono. Desceu as escadas até chegar à cozinha revestida com azulejos fora de moda, cor marrom. Ela tinha repulsa só de olhar, mas não conseguira dinheiro para fazer uma reforma na casa. Colocou água e pó na cafeteira e esperou o café magicamente aparecer na jarra. A atenção totalmente voltada para o líquido de cor escura que escorria pelo vidro foi perdida quando a campainha tocou.

“Não é possível... Aqueles policiais a essa hora...” – pensou, destrancando a porta. Ao girar a maçaneta empalideceu-se por completo. Parecia que uma luz negra tomara toda a sala. Não consegui desviar os olhos dele. Tentou gritar, mas era como se estivessem num vácuo. A cada passo que ele dava adentrando, ela recuava em resposta, até cair no sofá, imóvel. Amy não conseguia entender como ou porque, mas ele estava ali e antes que pudesse pensar alguma coisa sua camisola foi rasgada pelas mãos enormes dele. Ele começou a se despir também. E antes que pudesse ver o membro dele um barulho tomou toda a casa e tudo em volta começou a escurecer.

Amy sentou-se depressa na cama, suada e ofegante, mas bem. Não viu a luz do quarto acesa, mas a luz do sol que tomava todo ambiente, assim como o som do antigo despertador de cobre que anunciava que tudo aquilo havia sido um sonho e que estava na hora de trabalhar.

5 de janeiro de 2012

A noite de Amy (continuação)


Amy ainda repetia as mesmas palavras quando o delegado desistiu fechando sua pasta e se foi liberando a moça para voltar quando estivesse mais calma. Naquela manhã Amy não dormiu, nem comeu. Suas mãos ainda tremiam muito. Chegou em casa carregada por um policial, que não disse uma palavra sequer e foi embora fechando a porta e deixando-a sozinha como quando saíra de casa.

Sentada no sofá confortável de cor ocre, uma das poucas coisas que conseguira comprar com o mísero salário, observou a casa como ela a tinha deixado: o copo d’água sobre a mesinha no centro da sala; um vestido rosa (ficara em dúvida se o usaria ou o preto ficaria melhor) sobre o repouso do braço do mesmo sofá e; a lâmpada acesa da varanda, que agora disputava sua luz com os primeiros raios da manhã.

Pensou em levantar e preparar um café, na tentativa de esquecer o que se passara em poucas horas. Sentiu tanta tristeza de não ter sua mãe ali por perto naquele momento que chegou a desejar a mesma morte que ela. Um triste acidente de carro. O motorista do outro veículo estava bêbado. O pai e a mãe de Amy morreram, a menina, porém, chorava no banco de trás porque seu brinquedo voara pela janela.

Sua mente voltava ao lugar ainda latejando com a dor de cabeça. Intentou outra vez o café, mas desistiu ao mover a perna esquerda alguns centímetros.Sentiu a vagina úmida de sêmen. Os seus pensamentos pararam na lembrança do homem negro recolhendo o membro e largando-a a esmo. Sentiu uma imensa vontade de chorar outra vez e enquanto seus cediam ao peso das pálpebras, ela adormeceu ali mesmo.