8 de janeiro de 2012

A noite de Amy (continuação p.2)


Seus olhos só se mexeram quando já era noite. Subiu as escadas e foi tomar um banho. Olhou-se pelo espelho e sentiu que nunca esteve mais suja. Começou a despir o vestido rasgado nos ombros. Viu as marcas no pescoço ainda mais vermelhas que antes. Teve vergonha e muita vontade de chorar. O que os vizinhos iriam pensar? O que sua mãe iria pensar? A lembrança da mãe cantarolando uma canção de ninar repousou sobre sua mente. Ela sempre o fazia quando Amy tinha uns seis ou sete anos. Arrancou a roupa íntima. Seus olhos pousaram sobre a genitália e sem mais pensar em nada deixou que a água morna caísse sobre o seu corpo.

Enxugou os cabelos lisos com mais cuidado que o resto do corpo. Fez uso de um creme íntimo e colocou uma camisola sobre o lingerie. Caminhou até o corredor. As lembranças ainda enchiam sua mente. Por um momento fechou os olhos e não os conseguia abrir. Tudo continuava escuro em um breu infinito. Percebeu, então, que não era um sonho e que a energia se fora, não só na sua casa, mas em todo o bairro. Niterói sempre teve esses problemas no verão. Amy tateou pelo caminho que já conhecia, até chegar ao quarto e se ajeitar na cama. Apesar de ter dormido o dia todo sua mente continuava cansada. Desejou subitamente não existir. Antes de adormecer sua mente vagueou pelos lugares em que poderia se jogar, fazendo com que seu corpo se separasse da alma. Concordou consigo mesmo que a janela do quanto não seria suficiente, já que estava no segundo andar. Pensou em uma das janelas do Niterói Shopping, lá sim não haveria dúvida, já que o arranha-céu era o prédio mais alto da cidade. Concluiu em seguida que seria difícil entrar em qualquer um dos escritórios da torre sem produzir suspeitas.

Seus olhos se fecharam, contudo uma luz iluminava o seu quarto. Deduziu que a energia retornara, sem questionar se havia deixado a lâmpada acesa. Levantou da cama tão bem disposta que nem parecia estar tomada de tanto sono. Desceu as escadas até chegar à cozinha revestida com azulejos fora de moda, cor marrom. Ela tinha repulsa só de olhar, mas não conseguira dinheiro para fazer uma reforma na casa. Colocou água e pó na cafeteira e esperou o café magicamente aparecer na jarra. A atenção totalmente voltada para o líquido de cor escura que escorria pelo vidro foi perdida quando a campainha tocou.

“Não é possível... Aqueles policiais a essa hora...” – pensou, destrancando a porta. Ao girar a maçaneta empalideceu-se por completo. Parecia que uma luz negra tomara toda a sala. Não consegui desviar os olhos dele. Tentou gritar, mas era como se estivessem num vácuo. A cada passo que ele dava adentrando, ela recuava em resposta, até cair no sofá, imóvel. Amy não conseguia entender como ou porque, mas ele estava ali e antes que pudesse pensar alguma coisa sua camisola foi rasgada pelas mãos enormes dele. Ele começou a se despir também. E antes que pudesse ver o membro dele um barulho tomou toda a casa e tudo em volta começou a escurecer.

Amy sentou-se depressa na cama, suada e ofegante, mas bem. Não viu a luz do quarto acesa, mas a luz do sol que tomava todo ambiente, assim como o som do antigo despertador de cobre que anunciava que tudo aquilo havia sido um sonho e que estava na hora de trabalhar.

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