Seus olhos só se mexeram quando
já era noite. Subiu as escadas e foi tomar um banho. Olhou-se pelo espelho e
sentiu que nunca esteve mais suja. Começou a despir o vestido rasgado nos
ombros. Viu as marcas no pescoço ainda mais vermelhas que antes. Teve vergonha
e muita vontade de chorar. O que os vizinhos iriam pensar? O que sua mãe iria
pensar? A lembrança da mãe cantarolando uma canção de ninar repousou sobre sua
mente. Ela sempre o fazia quando Amy tinha uns seis ou sete anos. Arrancou a
roupa íntima. Seus olhos pousaram sobre a genitália e sem mais pensar em nada
deixou que a água morna caísse sobre o seu corpo.
Enxugou os cabelos lisos com mais
cuidado que o resto do corpo. Fez uso de um creme íntimo e colocou uma camisola
sobre o lingerie. Caminhou até o corredor. As lembranças ainda enchiam sua
mente. Por um momento fechou os olhos e não os conseguia abrir. Tudo continuava
escuro em um breu infinito. Percebeu, então, que não era um sonho e que a
energia se fora, não só na sua casa, mas em todo o bairro. Niterói sempre
teve esses problemas no verão. Amy tateou pelo caminho que já conhecia, até
chegar ao quarto e se ajeitar na cama. Apesar de ter dormido o dia todo sua
mente continuava cansada. Desejou subitamente não existir. Antes de adormecer
sua mente vagueou pelos lugares em que poderia se jogar, fazendo com que seu
corpo se separasse da alma. Concordou consigo mesmo que a janela do quanto não
seria suficiente, já que estava no segundo andar. Pensou em uma das janelas do
Niterói Shopping, lá sim não haveria dúvida, já que o arranha-céu era o prédio
mais alto da cidade. Concluiu em seguida que seria difícil entrar em qualquer
um dos escritórios da torre sem produzir suspeitas.
Seus olhos se fecharam, contudo
uma luz iluminava o seu quarto. Deduziu que a energia retornara, sem questionar
se havia deixado a lâmpada acesa. Levantou da cama tão bem disposta que nem
parecia estar tomada de tanto sono. Desceu as escadas até chegar à cozinha
revestida com azulejos fora de moda, cor marrom. Ela tinha repulsa só de olhar,
mas não conseguira dinheiro para fazer uma reforma na casa. Colocou água e pó
na cafeteira e esperou o café magicamente aparecer na jarra. A atenção
totalmente voltada para o líquido de cor escura que escorria pelo vidro foi
perdida quando a campainha tocou.
“Não é possível... Aqueles
policiais a essa hora...” – pensou, destrancando a porta. Ao girar a maçaneta
empalideceu-se por completo. Parecia que uma luz negra tomara toda a sala. Não
consegui desviar os olhos dele. Tentou gritar, mas era como se estivessem num
vácuo. A cada passo que ele dava adentrando, ela recuava em resposta, até cair
no sofá, imóvel. Amy não conseguia entender como ou porque, mas ele estava ali
e antes que pudesse pensar alguma coisa sua camisola foi rasgada pelas mãos
enormes dele. Ele começou a se despir também. E antes que pudesse ver o membro
dele um barulho tomou toda a casa e tudo em volta começou a escurecer.
Amy sentou-se depressa na cama,
suada e ofegante, mas bem. Não viu a luz do quarto acesa, mas a luz do sol que
tomava todo ambiente, assim como o som do antigo despertador de cobre que
anunciava que tudo aquilo havia sido um sonho e que estava na hora de
trabalhar.
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