30 de novembro de 2013

22 de setembro de 2013

SUICIDA

Uma jovem belíssima corre pelo convés do navio mais luxuosos de que se tem notícia. No caminho, esbarra em algumas pessoas esnobes, cheias de dinheiro. A respiração ofegante e as lágrimas nos olhos. Ela segue à popa do navio. O convés finalmente termina em uma grade que separa a jovem do infinito. A morte nunca foi tão desejada. Enquanto seu corpo ultrapassa os limites da proteção, sua mente suicida grita. Grita o que queria ser e não foi. Os jantares finos, cheios de conversas fiadas, pessoas impecavelmente bonitas e desprovidas de quaisquer infelicidades. De repente se vê em uma mesa cheia de vestidos e paletós, sorridente, como se dominasse a felicidade ao seu dispor. Sorri enquanto a dor a tortura. É uma tortura oriental lenta e sorrateira. O fim é logo ali, depois da popa.

Já me senti assim algumas vezes. Vezes tais em que as lágrimas não são suficientes para fazer sair a dor que ecoa na alma. E enquanto se desespera, o sorriso não sai dos lábios. É preciso dizer que tudo é perfeito. Uma aparência alegórica. Há algo podre em cada um de nós, que em seus carros luxuosos e suas casas seguras não se pode ver.


Se eu beber até a morte ninguém vai perceber. Talvez não houvesse dor. E quem se importaria com a dor de quem tem tudo o que se pode sonhar. A grama do vizinho só é mais verde vista de um dos lados do arco-íris. De perto é podada irregularmente. Feia. No fundo todos somos suicidas, só não temos coragem para isso.

18 de setembro de 2013

Como um judeu fugindo do holocausto

Extraído do Livro "A Origem de Deus"

A última vez que eu pisei em uma igreja evangélica foi a gota d'água. Vi pessoas que eu amava sendo humilhadas por cometerem erros e julgadas por pessoas tão erradas quanto. Enquanto umas se sujeitavam a tudo para fazer o bem, outras aterrorizavam minha mente com seus argumentos santos de que ter um equipamento de som supera a necessidade de um banheiro digno aos fiéis. Fiéis a quem, afinal?

O cristianismo segue defendendo a “família” como base da sociedade, usando teses científicas das quais lutou para manter underground e que obviamente não domina. A família sempre foi apenas uma fotografia. Pai, mãe e filhos infelizes reunidos em uma cena para mostrar ao mundo o que não eram. A falsidade sempre esteve no meio de nós. O problema não é você crer em uma mentira, mas querer fazer com que a sociedade viva isso como se fosse verdade. Confesso que cheguei a acreditar nessas mentiras. A defendê-las. Proclamá-las.

Enquanto eu pregava na igreja, liderava o grupo de teatro, doava o meu tempo para “A Casa do Senhor”, eu era também o gay - e claro, ninguém sequer desconfiava disso. Antes de alegar, caro leitor, que sou doente, que há cura para mim, que isso é uma escolha, etc, pergunto-lhe: quando você escolheu ser heterossexual? Então, não foi uma escolha? Que interessante. Que remédios devo tomar para virar heterossexual? Você tem habilitação científica para receitar algum? É estudioso da área? Entendo...

Darei preferência ao termo GAY por ser o que mais me agrada e também por ser o termo HOMOSSEXUAL, uma classificação contemporânea e desnecessária, uma vez que em milhares de anos da história da humanidade a relação entre pessoas do mesmo sexo permaneceu normal até o advento do judaísmo. Como tradutor e profissional da área posso afirmar com propriedade que não há no novo testamento qualquer referência à homossexualidade pecaminosa, ao contrário há indícios que grandes nomes citados na bíblia sejam homossexuais.

Aos quatro anos de idade eu já sabia que gostava de homens e não de meninas. Lembro que passava no SBT um programa da Carla Perez e enquanto todos admiravam a beleza da loira do tchan, eu babava pelos dançarinos.

Aos sete anos, um episódio me marcou. A família comprou um fogão que acabara de chegar. Estávamos eu e minha mãe em casa e fomos desfazer a embalagem. Com medo que a tampa de vidro quebrasse eu dei um grito. O cristianismo que todos dizem ser bom fez a pessoa que eu mais amava olhar pra mim e dizer: “Eu não quero saber de filho boiola!”. Aos sete anos eu não soube o que dizer. Disfarcei, entrei no meu quarto e chorei silenciosamente. Minha infância foi completamente marcada por momentos de choro em solidão.

Comecei a falar sobre ser gay com alguns amigos aos 14 anos. Livrei-me de um peso que ninguém que não tenha passado por isso conseguirá compreender. Não se trata de afirmar-se gay, mas poder ser. A liberdade de poder existir e poder compartilhar como qualquer pessoa os seus sentimentos sem que isso gere ódio.

Aos 20 anos passei pelo primeiro caso de homofobia. E por mais que algumas pessoas insistam em dizer que ela não existe, é fato que vêm de pessoas que você menos espera. Era aniversário de um amigo. Quando fomos nos despedir eu quis abraçá-lo como todos fizeram. Ele se esquivou de mim como se eu fosse um bicho com uma doença contagiosa. Alguns disseram “que isso, cara? Ele só quer te dar um abraço”. Duas horas antes ele havia dito que eu era um dos seus melhores amigos. Eu chorei outra vez. Passei uns dois dias sem comer. Meu amigo me pediu desculpas e pediu que esquecesse a cena. Como?

Essa semana li que um certo deputado a favor da cura gay mandou prender duas jovens que estavam se beijando. Por que apenas uma forma de amor é justa? Por que eu não posso amparar a pessoa que eu amo com tudo o que eu tenho? Hitler propôs que os judeus eram uma ameaça à sociedade, faz isso em nome de deus. Propôs que fossem levados ao campo para tratamento. O deputado em questão propôs o mesmo em relação aos gays.

É muito fácil fazer chacota com uma luta que não é sua. É muito fácil chamar hipocrisia de santidade, subir num altar e pregar que "as literaturas corrompem o cérebro humano" baseando-se em uma literatura sem autoria definida e de tradução duvidosa. É fácil demais impor costumes cabrestos de um fanatismo religioso à uma sociedade que aceita tudo pronto. É fácil demais dizer que gays colocam uma amarra na boca de quem os chama de aberração abominável e afirma isso como uma demonstração de amor e cuidado. O que essas pessoas tentam tanto conservar? A mulher presa a um gineceu particular? Armários não apenas para roupas, mas para seres humanos? Uma família infeliz mascarando um sorriso para uma foto? Conservar negros tendo que usar outra entrada em lugares públicos para não "contaminar" o ambiente? Ou ainda manipular toda uma sociedade para que a personagem mais famosa do maior autor do Brasil fosse representada branca ao invés de negra como era criatura e seu criador. Tem gente precisando entender que número de mortos se refere à pessoas e não à personagens de revistas em quadrinhos.

Eu sinto como se as pessoas quisessem me trancar dentro da minha própria cabeça e eu tivesse que ficar fingindo que acredito como um judeu fugindo do holocausto.

14 de agosto de 2013

Sexo como antigamente

- No meu tempo as moças não faziam isso não. A gente namorava com os olhos. Um arrepio, se o menino olhasse de volta. Não vou dizer que não pensávamos em sacanagem. Pensávamos e muito. Mas era diferente. As cuecas eram em outro formato e quando saíamos para as lojinhas ficávamos imaginando aqueles meninos vestindo aquele pedaço de pano, não esse shortinho boiola que os homens usam hoje em dia.

- Que nada. Eu era bem safadinha. Lembro muito bem a primeira vez que vi um piru. Meu quarto tinha janela que dava pra rua e uma vez o menino não aguentou e foi fazer xixi. Eu ficava escondida e deixava apenas uma fresta para poder espiar. Achava engraçado ele sacudindo.

- A primeira vez que eu vi um pinto foi o do meu pai. Era nojento. Mole, grande e cabeçudo. Mamãe tinha uma falta de gosto. O pinto que eu mais gostei de ver foi o do Paulinho.

- Aquele seu namoradinho?

- Sim. Era branquinho e com a pontinha rosa. Mas fiquei com medo de pegarem a gente atrás da árvore. Eu gostava de admirar.

- Você só ficava olhando? Se fosse eu teria feito tanta coisa com ele.

- Mas eu fiz! Não conte isso a ninguém: eu coloquei na boca. Não perdi a virgindade, pois ia ter problemas no casamento e poderia engravidar. Foi tão bom. Quase matei o menino do coração. Levei tempo pra entender que não podia bater nos dentes.

- E você bebeu? Ai que nojo.

- Vai me dizer que você nunca bebeu?

- Nunquinha.

- Pois é muito bom. Essa juventude de hoje não sabe aproveitar nada. Essas moças não sabem se preservar. Saem com todo mundo, mostram a bunda pra todo mundo.

- É mesmo. A filha da vizinha se perdeu, você soube?

- Menina, não me diga? Tão bonitinha... E quenga. Invés de esperar.


- É por isso que eu sempre digo pra Rita: “Rita tu sai da janela que as moças desse lugar nem se demora donzela, nem se destina a casar”

10 de agosto de 2013

Abominando o preconceito


Estou quebrando o jejum de meses sem escrever para o blog para defender uma causa que também é minha e digo logo de antemão que a milha sexualidade não está sob discussão, uma vez que não preciso ser gay para defender seres humanos da injustiça cometida por monstros sem escrúpulos.

Essa história de que “abomina o pecado, mas ama o pecador” é uma grande piada. Aquilo que você faz é indissociável ao que você é. O cantor o é porque canta, assim como o ladrão por que rouba e o gay porque faz sexo com outro homem. Não é possível que se aceite o preconceito mascarado como um llobo na pelo de uma ovelha.

O casamento gay é mais que necessário não para dizer que gays vão transar abertamente, mas pelos direitos que são necessários. Se um casal gay não tem os devidos direitos, a morte de um deles pode causar muito mais sofrimento que o habitual: uma família pode impedir questões financeiras e até emocionais.

A justificativa dada por pastores da mídia foi usada por Hitler para justificar o preconceito. Se a homossexualidade é tão prejudicial ao desenvolvimento da espécie por que será que nossas casas estão repletas de obras de arte oriundas de homossexuais? Não consigo conceber minha playlist sem Cazuza, Fred Mercury, Renato Russo, Ney Matogrosso, Adriana Calcanhotto, Ana Carolina, Zélia Duncan, Cássia Eller, Daniela Mercury, Maria Gadú, Netinho, Ricky Martin entre tantos outros. Só falta agora proporem tirar das lojas livros de Caio Fernando de Abreu, ou queimarem a Monalisa. E um dos maiores nomes do futebol atual porque carrega o nome do imperador com a maior demonstração de homossexualidade da história.


Deus criou macho e fêmia, todos com cu, o que passa disso é hipocrisia. A mentira de que a homossexualidade é abominável foi repetida tantas vezes que virou uam verdade para os incultos. A “sodomia” foi usada até o século XIX pelo exército de Napoleão como tática de guerra. Deixo-lhes a frase dita por JK Rowling “Vá em frente e pesquise, um pouco de investigação não faz mal a ninguém.”

17 de julho de 2013

A verdadeira criação

Não consigo conceber uma idéia mais peçonhenta que a de um deus magnânimo e piedoso que coloca uma árvore do bem do MAL para o homem ser tentado. Que criatura mais nefasta seria capaz de criar seres à sua imagem e semelhança e chamá-los abomináveis? Ora, pois, o homem o criou e não o contrário. A criatura tornou-se criadora pela necessidade íntima de uma passividade. O dendrum no meio do jardim seria para Eva como uma tortura oriental em sua cabeça dizendo, gritando, esperneando: “coma aquela porra!!!”. Como não bastasse essa atrocidade, criou-se de deus o diabo. Como parte do próprio, uma outra criatura, semelhante ao seu criador com a única função de ser pisado, humilhado. O homem criou deus à sua imagem e semelhança: perverso, soberbo, caprichoso e cheio de vaidades. Nada na terra é mais paradoxal. E se o mistério é um paradoxo, onde se encaixa a racionalidade de culto e as revelações obrigatórias de deus? Adão se masturbava tranquilamente no Edem e deus só criou a mulher para que ele pudesse fazer aquilo com um número maior de buracos. O homem cria-se deus sobre a mulher. Eles fazem sexo sem casamento. Eles comem até passar mal. Por fim: deus tem sua origem puramente humana. Freud me entenderia perfeitamente agora. A mente humana tem necessidade de criar. Ela é a verdadeira criadora.

16 de junho de 2013

A Copa da Casa

Rio de Janeiro, 2013, século XXI, internet 4G (ou quase), transporte público ultramoderno, tecnologia de ponta nas casas de toda a população, educação batendo recordes de sucesso escolar e hoje me deparo com esta cena anacrônica, descabida pelo avanço dos nossos tempos. Em plena Rio Branco, desce uma senhora com três filhos (um menino e duas meninas) de um ônibus superconfortável (desses que só o Rio de Janeiro tem). A mulher bem arrumada acomodou os filhos na calçada, desarrumou os cabelos, passou um pouco de terra nas maçãs do rosto e começou: “Moço! O senhor pode me ajudar com um real? Moço!”.

De início, achei excelente a ideia: uma encenação teatral em via pública. A cidade respira cultura e isso é uma inovação. Quase aplaudi o espetáculo. A peça era tão boa que alguns transeuntes interagiam e entregavam-lhe moedas e até algumas notas. De repente, esfrega algo nas ventas do menino (presumo que era pimenta do reino), que escarra a meleca e pendurada fica para que desse mais realidade ao roteiro.

Uma senhora passa e diz: “Vá trabalhar!”, recebendo como revide algo que não me permitirei escrever aqui. As crianças juntaram-se ao coro: “Moço! O senhor pode me ajudar com um um real? Moço!”. Se alguém os ignorava, uma barulhera tomava conta do ambiente. Deduzi que aquilo fazia parte do processo catártico e que deveria ser impressionantemente realistíco.

Algumas moedas depois a mulher retirou da bolsa uma toalha mais branca que o uniforme do papa, limpou o rosto e as crianças. Penteou os cabelos e tomou o próximo ônibus. Achei que veria os atores curvarem-se em agradecimento no final da peça. Nem o diretor apareceu. Acho que não era um peça. Mas onde já se viu usar a rua como se fosse a sua copa, e ainda por cima pedir dinheiro como se fossemos obrigados a dar. Não adianta reclamar, dizer que não tem emprego. A Dilma solucionou todos os nossos problemas e junto com o Sérgio Cabral e o Eduardo Paes fizeram o Rio melhorar.

-Alfredo!!!! Acorda! Tá na hora de tomas o seu remédio.
-Ãh? O quê?... Ahhh velha chata...
-Aproveita que esse é o último.
-Você não comprou mais?
-Fiz as compras do mês. Acabou o dinheiro.
-Vou ao banheiro.
-Vai como? Esqueceu que você não anda e que não sai desse quarto há anos?
-Mas e a senhora com os filhos pedindo dinheiro?
-Você sonhou, meu filho.

5 de junho de 2013

O Ladrão de Galinhas


por Nathan Rodrigues

06/05/2013

Houve um tempo em que ladrão era considerado sujeito corajoso. O cabra entrava nas nossas propriedades, roubava nossa horta, o nosso pomar e se fosse mais atrevido, surrupiava as galinhas. Isso, claro, depois de passar pelo capataz da propriedade que levava de um lado ao outro sua espingarda e os cães ferozes.

Engraçado é que hoje ninguém mais quer roubar galinhas. Tenho até saudades dos ladrões de galinha. Hoje em dia ladrão rouba até à distancia, via internet. Tem até quem roube A INTERNET. Outro dia fui assaltado da maneira mais estúpida que se pode ocorrer: comprando tomates no supermercado. Não olhei direito e acabei perdendo treze reais em troca de um quilo de tomate.

Lembrei, outro dia, dos batedores de carteira que atuavam no centro da cidade. Eles se preocupavam em esconder-se para não serem apanhados. Curioso é que já tive que me esconder para não me levarem com carteira e tudo.

Cleptomaníacos também são extremamente dignos da minha atenção. Especialmente pelos objetos sutis que costumam ser subtraídos por eles. Conheci certa vez uma moça fascinada por roubar talheres. Esta foi responsável pela renovação dos faqueiros de metade dos restaurantes da cidade.

Em tempos de pobreza, havia uma senhora aqui na vizinhança que costumava roubar papel higiênico. Entrava nos banheiros públicos e enchia as sacolas com folhas duplas e trinta metros, deixando os outros usuários de mãos abando. Ou melhor... Deixa pra lá.

Como estava dizendo, tenho saudades do ladrão de galinhas, que roubava apenas para comer e nada mais. Hoje há muita maldade no mundo. As pessoas roubam de tudo: saúde, educação e principalmente dignidade. A realidade de agora mostra que a toda hora alguém está roubando. Já ouvi dizer que é natural do ser humano. Não sei, só sei que às vezes bate uma saudade do ladrão de galinhas.

2 de junho de 2013

Vícios do novo milênio.

É incrível como nossa necessidade de computadores propicia nossa inércia artística, criativa, cultural e principalmente social. Estou sem computador há um tempo, nem por isso desconectado. Meu celular permanece 24 horas com wifi ligado. Estou escrevendo a partir dele. Ele está lá quando eu acordo e permanece até quando eu apago. suas baterias são recarregadas junto com as minhas. Somos parte um do outro. E eu que não tinha menor coordenação motora para com a tecnologia touchscreen raramente tiro o meus dedos do ecrã.

11 de abril de 2013

Outro Ser

Talvez não seja possível descrever o que sentimos com tamanha perfeição, todavia, a possibilidade de traduzir ao mundo traz-nos uma esperança além daquela habitual de ficarmos com aquilo preso dentro de nós. Apaixonar-se e desencontrar-se é tão comum que nos faz mal. Quem disse que a felicidade está a nossa porta. Eu corro, corro, corro e não consigo alcançá-la.

Imaginem apaixonar-se por alguém e descobrir que tal pessoa atrai-se por seres de um sexo diferente do seu. Não digo isto por preconceito, mas por efeito de lágrimas que rolaram. Isso tudo sem sequer dizer uma palavra. Nem mesmo um “Eu te amo”.

O cruzar de olhares, oi matinal e o boa noite cortês de sempre. A voz firme de quem precisa manter boa impressão. Por que isso se meu íntimo se torna ínfimo ao seu lado? Por que quero beijar-te despindo nossos corpos publicamente sem preocupar-me com nada e nado para longe como alguém que precisa ganhar uma competição bem longe? Não desejo mais o seu corpo. Eu quero é a sua vida.

Hoje achei que minhas lágrimas eram por ti. Menti a mim. As lágrimas eram por mim. Eu sou digno de pena. Eu estava ali vendo você passar de mãos dadas a outro ser. Mostrando publicamente a outro o que e queria ter. E se eu mudasse de sexo? E se eu morresse? E se aquela criatura usurpadora morresse? E se você morresse? Nossos corpos se desconversam.


2 de fevereiro de 2013

Verdade Liberdade!




Liberdade, liberdade!
Abra as asas sobre nós

E que a voz da igualdade
Seja sempre a nossa voz”

(Imperatriz Leopoldinense, 1989)


Há exatos 40 anos, o jogador Almir Pernambuquinho morreu em um bar na Avenida Atlântica (Copacabana). O jogador levantou-se de sua mesa para defender um grupo de atores gays que estavam sendo injuriados. O nome dele caiu no esquecimento, a sua causa não. O mundo não muda tanto. Os portuguêses expulsaram os índios daqui. O governador do Rio de Janeiro fez a mesma coisa. "Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais".

Assisti há poucos minutos o filme The Help, ou Histórias Cruzadas (no Brasil). E recebi um impacto ao lembrar o quanto os seres humanos conseguem ser mesquinhos. Houve um tempo em que se acreditava que negros não tinham alma. Não somos descentes de escravos, descendemos de seres humanos que foram escravizados. Houve uma época em que negros não podiam usar os mesmos banheiros, entrar pelas mesmas portas e precisavam frequentar igrejas só para negros. E hoje em pleno século XXI homossexuais precisam criar suas próprias igrejas porque não é de bom tom que eles se sentem nos mesmos bancos que nós para adorar a Deus.

É bem provável que eu receba críticas pelo que direi aqui, todavia, não tenho pretensão alguma em satisfazer a ignorância alheia. O mesmo livro que diz que o criador abomina homossexuais é o mesmo que proíbe qualquer ser humano de cortar o cabelo, mulheres no período menstrual tenham contato com o mundo, e ainda por cima encoraja o trabalho escravo. A desculpa podre que ouço (e que prova a falta de semântica) é que se trata de uma questão cultural. A pergunta que faço (retórica, por favor: dispenso respostas) é porque há uma seletividade no que é cultural?

Ora, o mesmo Cristo que veio cumprir a lei foi o mesmo que guiou o caminho para uma nova e eterna aliança. A lei de Moisés diz que é proibido curar no sábado. E Jesus quebrou esse protocolo. Como já destaquei, uma mulher no período menstrual não poderia sair de casa, se tivesse uma hemorragia deveria permanecer em "prisão domiciliar". Naquela cultura, ao ser tocado por uma mulher nessas condições Jesus seria considerado impuro. O filho do Altíssimo quebrou todos os protocolos possíveis para mostrar que as pessoas estão preocupadas demais com a lei de Moisés e se esqueceram de viver a lei de Deus. O amor é a coisa mais importante que temos, foi o que Ele disse: Amem uns aos outros COMO EU OS AMEI.

Das experiências que tive frequentando igrejas tirei uma conclusão já observada por Paulo: O homem não conhece o que é o amor. Agape vai além do livro do padre, além de algumas letras num papel. Significa quebrar o protocolo que proíbe que gays adorem a Deus. Ele não abomina gays, ele os ama. Eu tenho um sonho. Um sonho de que a verdade liberte a humanidade da ignorância. E que um dia gays, mulheres, negros, e todo ser que respira (porque é assim que está escrito) hão de louvar juntos ao mesmo Deus. E assim, sendo libertos da ignorância pela verdade, verdadeiramente serão livres.

28 de janeiro de 2013

Santa Maria do Carnaval

Não creio que há algo a ser dito. Milhões de pessoas morrem todos os anos. O tempo todo. Antes que você termine de ler este texto (e eu de escrevê-lo) milhares de mães, filhas, netos e maridos terão deixado este mundo. Santa Maria recepcionou a partida de muita gente, mas isso não é nada comparado ao número de mortes no trânsito. Quantos usuários de crack trocariam suas mortes lentas e dolorosas por dez minutos de fumaça letal. E o que dizer do Holocausto que continua a acontecer nos quatro cantos do mundo?

Pessoas morrem em guerras fúteis. Crianças, bebês e idosos agonizam nas filas dos hospitais brasileiros. A indústria do fast-food mata por aumentos infinitos de colesterol e glicose milhares de pessoas. Na África, pessoas morrem por sexo. No Oriente Médio, morrem por crerem e por não crerem. Incêndios acontecem todos os dias. E as pessoas só conseguem se espantar com que está na apenas na tela da televisão.

Não se pode de maneira alguma desmerecer às vidas de Santa Maria. Eram pessoas queridas, futuros profissionais brilhantes, pais e mães dedicados. Porquanto a devida culpa deve se incumbir aos irresponsáveis. Todavia, não abrir os olhos ao que está notoriamente ao nosso lado é uma infâmia. Será que os “cracudos” não merecem nossa atenção apenas por não estarem na faculdade? Semana que vem já é carnaval e toda tristeza transformar-se-á em folia. Porque é assim que acaba. Todo, simplesmente, todo carnaval tem seu fim.

 
 Todo Carnaval Tem Seu Fim
Los Hermanos (Composição por Marcelo Camelo)

Todo dia um ninguém josé acorda já deitado
Todo dia ainda de pé o zé dorme acordado
Todo dia o dia não quer raiar o sol do dia
Toda trilha é andada com a fé de quem crê no ditado
De que o dia insiste em nascer
Mas o dia insiste em nascer
Pra ver deitar o novo

Toda rosa é rosa porque assim ela é chamada
Toda Bossa é nova e você não liga se é usada
Todo o carnaval tem seu fim
Todo o carnaval tem seu fim
E é o fim, e é o fim

Deixa eu brincar de ser feliz,
Deixa eu pintar o meu nariz

Toda banda tem um tarol, quem sabe eu não toco
Todo samba tem um refrão pra levantar o bloco
Toda escolha é feita por quem acorda já deitado
Toda folha elege um alguém que mora logo ao lado
E pinta o estandarte de azul
E põe suas estrelas no azul
Pra que mudar?

Cm

Hoje ele não me cumprimentou. Estava de polo vermelha, minha cor de atual e momentânea predileção. O cabelo loiro recém cortado militarmente, desta vez à tesoura. Pontas sedosas. Os olhos estavam tão fixos ao horizonte que não notou meu aceno céfalo. Minha alma quase desfaleceu. A indiferença penetrou meu peito como uma faca. Será que estaria ignorando a mim por motivação raivosa? Será que minha presença o encomodava? O que será que disse? A memória de nossos silêncios atentáva-me que nunca trocamos sílabas maiores que “oi”. Percebi também que nunca havíamos chegado tão perto um do outro. Nossos corpos a centímetros de distância. Sua silhueta sugava o meu completamente.

12 de janeiro de 2013

HOURS AND HOURS



HOURS AND HOURS (Horas e Horas)
by Nathan Rodrigues

There are times I want kill you
There are times I'm afraid of losing you
There are times I stop everything to see you
There are times I need to forget you

There are times when I lose the reason
Sometimes I think with heart
Already talk nonsense while asking forgiveness
Maybe I thought it was just emotion

And now I spend hours and hours trying forget you
And now I give up trying to forget you
cause everything I do reminds me of you

6 de janeiro de 2013

Levítico


Esta é a transcrição um e-mail que circula na Internet de autor desconhecido. É a resposta a uma locutora homofóbica de uma rádio evangélica norte-americana que adora usar o Livro Levítico para condenar os homossexuais.


“Querida locutora,



Gosto muito do Livro de Levítico e concordo que os cristãos devem sim viver debaixo da lei. Afinal, para que um sacrifício único e suficiente em Jesus Cristo? Para que uma Nova Aliança no Espírito deixando todo o conteúdo, rituais, sacrifícios da lei mosaica de lado? Mas tenho alguns problemas em cumprimento da Lei. Será que você poderia me ajudar?



• Eu sei que quando eu queimo um bezerro no altar, como um sacrifício, o odor que se desprende é cheiro suave e agradável ao Senhor. (Levítico 1, 5-9). O problema são meus vizinhos. Eles dizem que o odor não é nada agradável e ameaçam chamar a Saúde Pública, que também não gosta do odor. Que devo fazer?



• Levítico 11, 7-8 - diz que ao tocar o cadáver de um porco me torna impuro. Poderei praticar algum esporte com bola feita de pele de porco, caso use luvas?



• Levítico 11, 12 - diz que comer marisco é abominação. É uma abominação maior ou menor do que a homossexualidade?



• Eu sei que não devo ter contato com uma mulher durante o seu período menstrual (Levítico 18,19). O problema é; como saber? Sempre que pergunto, a maioria das mulheres se sentem ofendidas.



• Levítico 19,19 - diz-me que não posso plantar tipos diferentes de sementes no mesmo campo, e nem usar roupas feitas de dois tipos diferentes de material. Devo concluir que serei condenado se tiver uma hortazinha no fundo do quintal com alguns vegetais e temperos, ou se usar uma camisetinha básica, de algodão e poliéster.



• A maioria das pessoas que conheço corta o cabelo de vez em quando, apesar de que isso é expressamente proibido (Levítico 19, 27). Estaremos todos condenados?



• Levítico 21,16-20 - declara que eu não posso me aproximar do altar de Deus se eu tiver um defeito físico. Eu uso óculos. Será que Deus faz “vista grossa” para este pequeno detalhe?



• Levítico 25, 44 - declara que eu posso possuir escravos ou escravas, desde que tenham sido comprados em um dos países vizinhos. Um amigo meu insiste que essa regra se aplica a argentinos e paraguaios, mas não a uruguaios. Poderia me orientar? Por que não me é permitido possuir escravos uruguaios?”