23 de setembro de 2010

Sprint



Não dá pra parar agora. Os pés estão pisando nos espinhos. A voz se abafa pelas lágrimas. Mas não dá pra parar. Preciso de fôlego. Preciso de um sprint. Coloquei uma folha de papel com essa palavra na parede do meu quarto. O sprint trata-se de um fôlego que um corredor toma quase no fim da maratona. Quando faltam só 100 metros. Quando o pensamento é invadido pela exclamação: Descanse! Isso torna-se muito óbvio, mas ao mesmo tempo é um grande problema. Não é hora de descançar. Nós nunca descansamos. Sempre estamos fazendo alguma coisa. Até os adeptos do nadismo fazem nada de vem em quando.


A mulher chora na beira da calçada. O motorista passa com carro em cima da poça, molhando-a. Mais a frente o garda corrupto multa o carro por excesso de velocidade, mas oferece a possibilidade de absorção por apenas 50 reais. O filho do guarda morreu. na verdade ele nem nasceu. A mãe é aquela mulher sentada, molhada pelo motorista. Sempre pensamos em parar. Mas a vida não para. É preciso tomar um fôlego, um sprint e continuar correndo. Faltam só 100 metros até a linha de chegada.


Cada um corre à sua maneira. Cada um faz o seu caminho como quer (ou como pode). O que realmente importa é nunca parar. Bob Marley assim que foi baleado saiu do hospital e foi fazer um show. Muitos perguntaram o porquê da atitude tão radical do cantor. "O mal não para", disse ele. A frase que subentende-se aos intelectuais é "Por que haveríamos de para então se acaso o mal não para". E assim seguimos. Uns sem pernas, outros sem lágrimas. Outros inda sem chão. Só não dá pra seguir sem vida.

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