Há quem diga escrever bem é um dom dado a poucos. Outros, ainda dizem que
escrever é algo tão natural quanto a falar. Peço licença para entrar no campo
da erudição linguística e revelar a você leitor a minha forma de acreditar na
língua. E por falar em licença, preciso desabafar minha conciência linguística.
Por esses dias que se foram, alguns amigos de Facebook ao cometerem um erro ao
passar um informação incoerente usando uma frase de efeito, e sendo corrigidos,
lançaram sobre o ar seguinte premissa: “Onde está a minha licença
poética?”. Ora, pois, deve ter decido pelo esgoto quando alguém em sã
conciência deu uma discarga linguística.
E se pensam que isto é algo exporádico, não é. Muitas pessoas se
autoproclamam “Oswalds de Andrades” e assumem suas “licenças”.
Já vi coisas como aspas entre a primeira e a última linha. “Se estiver errado,
não fui eu que escrevi.” Ou como um jornalista que ao passar a informação de
maneira um tanto equivocada, por assim dizer, questionou: “onde está a minha a
licença poética?”.
Acredito que por essas e outras, há muitos comentendo suicídios
linguísticos e gramaticais porque tudo é licença poética. Devo lembrá-los que
apenas poetas ousados, porém lúcidos, fazem uso deste recurso estilístico. E
apesar de não querer ser normativo e gramaticalista, se você não é o Chico
Buarque use somente a licença que realmente possui. Coloque todos os pingos nos
is e não deixe a regência ir por água abaixo.
Outro ponto que considero importante deixar em seu túmulo é o fantasma da
oratória redacional. O nome é estranho por não encontrar outro que se adeque
melhor e se até o final do texto não achar outro vai este mesmo, como diria
Machado de Assis. Não há nada pior em um escrito do que a “encheção de
linguiça”. Esta deve estar, impreterivelmente, no churrasco e sem trema. Se não
há assunto que complete o seu pensamento, coloque um ponto final ou até mesmo
mude de assunto de maneira terráquia. Lembre-se que é na Terra que ele será
lido.
Fazendo,
pois, uso de tudo o que foi dito aqui, peço linceça para acabar este texto. Há
milhares de coisas que precisam da minha mão neste momento, como licenças
poéticas de alunos vestibulandos ou amigos do Facebook. Obrigado pela atenção
e, com lincença.
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