29 de setembro de 2011

O encontro



A praia estava como sempre. Pessoas correndo pra lá e pra cá em seus calmos exercícios no início da noite. O vento ameno acariciava-me a pele a cada passo que dava. Ricos e seus cachorrinhos me olhavam com desprezo. Mas não ligo pra isso. Continuo sempre caminhando, mesmo sabendo que quando chegar ao outro lado da orla, darei meia volta e farei o mesmo caminho, outra, e outra vez.

Aquilo era tão normal que fazia involuntariamente. Olhava os rostos masculinos e o que trazia entre suas pernas. Qual é? Toda moça virgem sonha com uma falo priápico e melhor ainda se o sujeito tiver cara de anjinho e barriga tanquinho. Muitos ali eram assim. O dinheiro os fazia bonitos. Mas houve um, que me olhou também.

Aquele olhar não era qualquer olhar. Era o mesmo olhar que eu lhe lançava. Assustei-me e abaixei a cabeça, envergonhada. Ele continuou sua corrida e eu segui meus passos. Foram apenas alguns segundos. Dois, ao máximo. Mas o desejei como fosse o último. Olhei para trás e o vi melhor. Cabelos curtos, negros. Camiseta vinho, calção de futebol preto e tênis. Não era um Apolo. Não parecia ser esnobe ou coisa assim. Também não vi o volume do genital, mas o desejei. Desejei-o tanto que corri para chegar ao fim da praia e vê-lo passar outra vez.

Voltei a caminhar o meu ritmo e o avistei. Uns 200 metros à frete, vindo em minha direção. Olhava-me como eu o olhava. Senti em seus olhos que me desejava tanto quanto eu o desejava. Meus olhos não tinham outro foco, senão os dele. Quando passamos um pelo outro senti minha cabeça o acompanhar. Ele fez o mesmo. Desta vez não senti vergonha, mas prazer. Somente prazer.

Cada vez que passavamos um pelo outro perdiamos a visão do universo ao nosso redor. Aos poucos, os olhares tornaram-se sorrisos. E os sorrisos um singelo “Oi!”. E o “Oi!” a fim. Ele não passou mais por mim. Olhei para todos os lados e não mais o vi. Ele se foi como num olhar e eu não vi.

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