A praia estava como sempre. Pessoas correndo pra lá e pra cá
em seus calmos exercícios no início da noite. O vento ameno acariciava-me a
pele a cada passo que dava. Ricos e seus cachorrinhos me olhavam com desprezo.
Mas não ligo pra isso. Continuo sempre caminhando, mesmo sabendo que quando
chegar ao outro lado da orla, darei meia volta e farei o mesmo caminho, outra,
e outra vez.
Aquilo era tão normal que fazia involuntariamente. Olhava os
rostos masculinos e o que trazia entre suas pernas. Qual é? Toda moça virgem sonha
com uma falo priápico e melhor ainda se o sujeito tiver cara de anjinho e
barriga tanquinho. Muitos ali eram assim. O dinheiro os fazia
bonitos. Mas houve um, que me olhou também.
Aquele olhar não era qualquer olhar. Era o mesmo olhar que
eu lhe lançava. Assustei-me e abaixei a cabeça, envergonhada. Ele continuou sua
corrida e eu segui meus passos. Foram apenas alguns segundos. Dois, ao máximo.
Mas o desejei como fosse o último. Olhei para trás e o vi melhor. Cabelos
curtos, negros. Camiseta vinho, calção de futebol preto e tênis. Não era um
Apolo. Não parecia ser esnobe ou coisa assim. Também não vi o volume do
genital, mas o desejei. Desejei-o tanto que corri para chegar ao fim da praia e
vê-lo passar outra vez.
Voltei a caminhar o meu ritmo e o avistei. Uns 200 metros à
frete, vindo em minha direção. Olhava-me como eu o olhava. Senti em seus olhos
que me desejava tanto quanto eu o desejava. Meus olhos não tinham outro foco,
senão os dele. Quando passamos um pelo outro senti minha cabeça o acompanhar.
Ele fez o mesmo. Desta vez não senti vergonha, mas prazer. Somente prazer.
Cada vez que passavamos um pelo outro perdiamos a visão
do universo ao nosso redor. Aos poucos, os olhares tornaram-se sorrisos. E os
sorrisos um singelo “Oi!”. E o “Oi!” a fim. Ele não passou mais por mim. Olhei
para todos os lados e não mais o vi. Ele se foi como num olhar e eu não vi.
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