24 de fevereiro de 2011

Excesso Exceto

Vi hoje no jornal do meio-dia que uma senhora de 78 anos, com câncer de pulmão, está sentada em uma poltrona há nove dias em um hospital porque não há leitos. Outro homem sentado no corredor com um problema na perna, sem conseguir andar, recebe uma ordem de uma enfermeira que está há uns dois metros à sua frente. “Levanta daí!”

Estou revoltado como as “autoridades” desse país são. Minha revolta não é a solução e esse texto também não é. A velinha provavelmente vai morrer naquela poltrona enquanto nossos parlamentares votam em uma sessão plenária absurda R$5,00 de aumento no piso salarial.

Concordo que um aumento maior que esse traria à ruina cidades interioranas que não possuem essa verba. Mas volto a lembrar dos salários dos digníssimos deputados e senadores representam a miséria de muitos brasileiros. Cada parlamentar gera um custo total de R$90.000,00 por mês. Acho que com esse dinheiro a velinha não precisava estar daquele jeito.

Quanto à enfermeira, que em minha opinião deveria estar presa por maus tratos e omissão de socorro, o apresentador do jornal (deputado Wagner Montes) agiu em sua defesa dizendo que os médicos e enfermeiros ganham mal. Para começar a pessoas que aceita trabalhar sabe das suas condições salarias e sem este acordo o contrato não é feito. Segundo que isso não é motivo para que um paciente seja tratado mal. Somando-se a isso a falta de inteligência desses profissionais. Se você, profissional de saúde, trata mal um paciente ele não sai do hospital. Se não sai do hospital, o governo tem que “bancar” o tratamento dele. Isso significa que o governo transferiu o dinheiro que iria para o seu salário, para o miserável que você insiste em tratar mal. Respeito muito aos profissionais de saúde que são HONESTOS e que assumem independentemente de dinheiro o dever e a paixão por salvar e melhorar a vida das pessoas.

Deixo-lhes então Excesso Exceto, de Lenine com uma frase que tem sido realidade na saúde pública. “Se não morreu nem existiu”. É assim que viramos mais um na estatística. Como diria Cazuza, e assim nos tornamos brasileiros. Vou indo, pois já escrevi demais hoje.



Excesso exceto (Lenine / Arnaldo Antunes)

O que se abre aberto
Se aproxima perto
Pra esvaziar o já deserto

Desorienta o incerto
Ruma sem trajeto
Nunca existiu mas eu deleto

Querer sem objeto
Voz sem alfabeto
Enchendo um corpo já repleto

O excesso, o exceto
O etcétera e todo resto
Do chão ao céu, da boca ao reto

Eu só eu
No meu vazio
Se não morreu
Nem existiu

Só eu só
No meu pavio
Futuro pó
Que me pariu



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