9 de fevereiro de 2011

Eu matei minha irmãzinha


Eu acho que parei de matar. Não senti vontade, pelo menos. Tudo que fiz não me arrependo de nada. Sei sou um assassino cruel e indomável. Mas não consigo me ver de uma forma diferente senão a de um benfeitor para o mundo. Mas nem sempre foi assim. Estive revirando uns álbuns de família, vendo as fotos de um passado infeliz. Eu nunca fui uma criança normal, apesar de ter tudo o que uma criança precisa: pai, mãe, casa, brinquedos e... Irmã. Pena que ela não durou muito. Sabe... Acontecem acidentes quando você é uma criança de dez anos e tem uma irmãzinha de três perto de você. Eu já disse, eu era uma criança perturbada. Não tinha amigos. Eu vivia trancado dentro de casa. Minha pele era excessivamente branca por conta do confinamento. Meus pais eram superprotetores e eu fui tornando-me psicótico.

Certa tarde, estávamos apenas minha irmã e eu em casa. Minha mãe estava na casa da vizinha conversando algum assunto sem mais importância. A pequena criança dormia calme e serena em seu berço e eu procurava algo para passar o tempo. Até que ela resolveu acordar. A culpa não foi minha. Ela que acordou. Começou a chorar. Eu não conseguia fazê-la parar. Não podia deixa-la sozinha, minha mãe iria brigar comigo. Então não tive dúvidas: matei pela primeira vez.

Havia um vem sobre o berço que protegia contra mosquitos e insetos. Ele não era tão perigoso, mas foi essa a desculpa que todos por natureza acreditaram. Enrolei o seu rosto no véu e dei-a chorar. Mas ela continuava. Invadia minha mente com a sua gritaria. Criança chata. Parti então para uma atitude mais enérgica. Enrosquei o véu em seu pescoço. Agora não chora mais tão alto. Aos poucos sua voz vai embora. Sufoca ao tentar se soltar. Enrosca-se mais e mais. Até que... Acabou. Ela não está mais ali. Estou sozinho outra vez. Saí do quarto e fui para a sala assistir tv, como se a vida daquela criança não passasse de uma brisa. Minha mãe ao chegar perguntou-me se ela havia chorado. Disse-lhe não com uma naturalidade que até hoje não se de onde tirei. Continuei com os olhos fixos na tela. Ela foi até o quarto. Gritou. Desenroscou o corpo e voltou chorando com o cadáver na mão. Pensei que ela fosse desconfiar de mim. Mas deduziu que eu, um menino de dez anos, não teria coragem de matar minha própria irmã. Quem sabe da próxima vez?

Tudo se acertou como um acidente doméstico e nada mais. Eu nem me lembrava disso. Para quê? Há um velho provérbio chinês que diz: “O passado é história. O futuro, um mistério. Mas o hoje... O hoje é uma dádiva. É por isso que se chama presente”. Então, querido diário, vamos à velha frase de sempre (isso já está me enchendo o saco, um dia desses ainda mato o cara que inventou isso): faz uma semana que eu não mato ninguém. Só por hoje. 

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