17 de janeiro de 2011

Eu matei Carlota


A vingança sempre está acesa dentro de mim. Com certa frequência, lembro-me de pessoas rudes e que num breve momento desejei por suas mortes. Carlota fora uma inspetora de uma escola em que estudei quando tinha dez ou onze anos. Uma mulher baixa, cabelos tingidos de ruivo, cortados e baixos. Uma verruga saliente em seu rosto era um chamariz a apelidos. Ela já estava entre sessenta e cinco anos e a morte quando eu estudava. Conversava gritando até com outros funcionários da escola. Eu ainda a via pelas ruas do bairro, mas hoje decidi não vê-la mais. Nunca mais.

Uma criança que cresce com raiva ou trauma sempre se transforma em um adulto problemático. Não digo que a minha experiência com Carlota tenha desencadeado meu instinto assassino. Mas a lembrança daquela mulher rude um minha mente leva-me ao desejo de matar novamente e deixar o mundo melhor. Sua morte, apesar de do pouco tempo, fora muito bem arquitetada. Fiz uso da urna funerária que guardo em casa. Um caixão maravilhoso. Mas não era pra mim.

Carlota passava por mim todos os dias. Ela ainda não havia se aposentado. E convenhamos que não seja nada difícil derrubar uma velha. Bastou apenas um golpe na cabeça. Pelas costas, claro. Ela só viu o meu rosto quando acordou imobilizada por uma tala que a cobria por inteiro. Como uma múmia. Estava lá deitada no caixão. Sempre quis embalsamar uma pessoa. Estava realizando ali o meu grande sonho. Você olhou pra mim, gemendo alguma coisa que fiz questão de não entender. Agora não era hora de perder tempo com besteiras. Não tenha penas de suas vítimas, pensei comigo. Pena mesmo foi ter que me desfazer da minha coleção de formigas lava-pés. E, diga-se de passagem, que elas não possuem esse nome por um mero acaso.

Despejei o conteúdo da minha coleção sobre o seu corpo. Ela começou a se contorcer e por medida de segurança fui obrigado a fechar o caixão. Pensei seriamente em deixar o “embrulho” na porta de sua casa. Mas achei que seria muita maldade. Mas o que seria uma maldade para um assassino profissional? Fiz consumado o meu pensamento. Durante a madrugada deixei o “embrulho” no portão, aberto para que não se confundisse com outra pessoa. Estava já sem boa parte do rosto. Toquei a campainha e fui em bora, como um garoto. Eu nunca havia me sentido tão bem quanto naquele momento. A filha dela saiu e começou a gritar chorando. Arranquei com o carro que estava em uma rua transversal e nunca mais se viu Carlota.

Bem, tenho que descansar. Há outra morte me esperando amanhã cedo.

2 comentários:

  1. Excelente texto!!!
    Gostei demais da narração criativa!!!

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  2. boa!
    quem nunca sonhou em matar algum funcionario da escola?kkkkkkk

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