8 de janeiro de 2011

Eu matei a mãe de Gabriel


Ela adorava olhar os sorrisos. Como se fossem a única coisa a se olhar. Ela nunca mais sorriu. Essa foi uma das mortes em que depositei toda a minha raiva e o meu ódio. Poucas pessoas tem essa sorte. Você bebeu um refrigerante com muito sonífero e acordou em minha cisterna. Nunca pensei que uma engenhoca dessas que abrigava tanta água poderia me ser útil para eliminar almas.

Você dormia como um urso gordo que era. Os cabelos oxigenados já estavam pretos pela ferrugem do grande tonel. Felizmente com as algemas você estava presa ao chão. Não iria a lugar algum. Devo admitir que nem tive tanto trabalho, uma vez que a chuva o fez por completo. Começou a chover torrencialmente naquela tarde. O grande recipiente sem tampa que eu não usava há anos começou a encher deixando a límpida água pluvial enegrecida. Você acordou num susto. Tentou levantar-se, não foi possível. Começou a gritar e eu fingindo que não entendia. “O que? Não consigo te ouvir!”

Foram trinta longos minutos até que chegou o fim (a espera pela morte é tão intensa para quem mata quanto para quem morre). Você debatia-se o rosto de um lado a outro tentando respirar, mas a água lhe submergiu o rosto por completo. Ficou apenas a barriga como uma grande montanha. Sua morte foi lenta e prazerosa. Acho que nunca experimentei tanto êxtase.

Por fim, subi as escadas e deixei-te ao sol que já se abria. E infelizmente detenho-me por aqui, pois tenho um trabalho a fazer. Há uma morte gritando por mim.

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