Aquele era um dos lugares mais quentes em que já estive. As paredes fumegavam e tive que pedir ao meu anfitrião que me deixasse o gravador em estado sólido para que eu pudesso fazer a entrevista. Ele usava um terno vermelho, cor de fogo. Sempre muito cordeal, ofereceu-me uma bebida que neguei durante toda aquela tarde. Pelo menos no meu mundo estavamos à tarde. Hávia apenas fogo. Um de seus criados fora trazer a minha entrevistada. Pequenos sereszinhos que carregavam pela mão a senhora de pele não mais branca, mas decomposta em uma caveira perfeita. Enquanto eu apertava o REC, o esqueleto acomodava-se na cadeira posta entre o anfitrião e eu.
-Olá!
-Olá. – A voz respondeu-me como uma cobra, sorrindo e aos sussurros.
-Podemos andar logo com isso. Tenho mais o que fazer – Murmurou Lúcifer, meu anfitrião. Sim, eu estava no inferno. Não poderia perder a oportunidade de entrevistar-la. A Fera. A Fera da Penha. Tantos anos de trabalho e é a primeira vez que tenho uma oportunidade de fazer a entrevista do século.
A fita começou a rodar no gravador e fiz minha primeira pergunta.
-Diga-me qual é o seu verdadeiro nome? – minha voz saiu meio trêmula.
-Neyde Maia Lopes. Aqui todos me conhecem como A Fera.
-Você gosta desse apelido?
-Sim. Faz com que pessoas como você se borrem de medo.
Ajeitei a minha gravata, como um gesto de disfarce. Senti minha garganta seca. Não iria beber das adentes águas de Lúcifer. Eu precisava levar aquela entrevista até o fim.
............................. continua
É uma entrevista dessas ditas quentes, literalmente. A história promete. Grande abraço.
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