Eu odeio carne moída

Estou com fome. Saí da faculdade às oito da noite. Eu estava com fome. Não quis comer nada na rua, pois estou de dieta e evito coisas gordurosas. Cheguei em casa às dez horas, logo após um engarrafamento quilométrico. Como a fome estava a pino, fui comer alguma coisa. Havia feijão, arroz e mais nada. Não ficaria nervoso se a falta de dinheiro fosse o motivo da ausência da carne, mas não era esse o caso, até porque minha mãe foi ao shopping almoçar com o meu pai. Enquanto eles se divertiam eu comia carne moída em casa. Não sou de reclamar com minha família, na verdade eu não os reconheço como família (sinto como se fossem apenas estranhos que moram na mesma casa que eu), mas não aguentei. Eu odeio carne moída. Mas comi sem reclamar.

Eles chegaram a tarde e começaram a fazer ovos de páscoa (minha mãe faz chocolates para vender e meu pai está desempregado então os dois se ajudam). Por volta das quatro da tarde eu fui para a faculdade. Eu esperava, como sempre acontece, que minha mãe iria deixar a comida pronta para mim, mas não foi isso que aconteceu. Eu saio da faculdade azul de fome. Faço de tudo para deixar de ouvir as piadinhas da minha “família” como: “você está tão redondo quanto uma baleia” e coisas do tipo. Estou obtendo resultados, mas se todo dia chegar em casa e tiver pão com queijo mozarela eu vou ficar mais redondo do que já estou.

Pensei no meu delírio da fome em abrir o freezer e foi o que fiz. Tudo congelado. Na geladeira só havia ovo. Não quero comer ovo! Eles não comeram ovo no shopping então porque eu tenho que comer? Eles não comem o que não gostam eu não vou comer ovo nem carne moída! Isso não mata a minha fome ainda por cima engorda. Depois de pegar trânsito e aturar os meus professores da faculdade (isso sem falar do border) quero chegar em casa e ter comida. Eu pego o ônibus pensando no bife e fico decepcionado quando chego em casa. Até os desabrigados comem carne porque o governo dá. Vou passar a comer com eles, só assim não ficarei estressado.

 

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