18 de abril de 2011

O epitáfio


Ela abre a porta assustada pelo silêncio. Sua mãe não está em casa. Será que saíra? Deve haver algum recado na geladeira. Mamãe sempre deixava recados na geladeira. Sempre os prendia com ímãs no formato de flores. Ela adora flores. Sua preferida é a margarida. Há um canteiro na janela do seu quarto cheio delas. Margaridas tantas que sempre apareciam na primavera e que ela e sua mãe regavam juntas. Na geladeira só há um vazio na porta branca repleto de ímãs de margarida.

Pensa, em um relance, telefonar para o celular da mãe. Leva um susto ao descobrir o telefone fora o gancho. Está mudo, conferiu. Seu coração agora palpita de medo. Seu celular não tem sinal. A porta da cozinha esta escancarada, mas só agora percebera. O tapete vermelho na porta estava úmido. Estranho... Podia jurar que este tapete era branco hoje de manhã. Mamãe deve ter trocado, pensou tentando manter a calma. No escuro da noite percebeu que havia pedaços do tapete mais adiante. Seu peito estremeceu ao deduzir por si só que aquilo não era tapete e que ele era realmente branco pela manhã.



Chamou pela mãe sem resposta. Começou a desesperar-se ainda mais. A cada segundo o coração palpitava mais depressa. Sentiu uma pontada no peito. Não era uma faca ou nenhuma outra coisa. Estava tendo um ataque do coração. Não conseguia enxergar direito. Não o fazia desde que descera do ônibus. Seu ar começa a faltar. Ela tenta desesperada gritar por ajuda, mas se lembra de que não há ninguém em casa. Já era tarde, mandou em bora o seu ultimo suspiro. A última coisa que eh um vulto descendo as escadas e falando algo indecifrável. Era sua mãe que descia as escadas dizendo que tinha ido deitar-se por estar muito cansada, mas chegou ao térreo gritando pela filha. No dia seguinte jazia ao lado de seu epitáfio margaridas trazidas pela mãe.

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