Fazia uma semana que esperava o meu pacote chegar. Todo o dia olhava o seu paradeiro. Recebi um e-mail da empresa dos Correios. Destinatário Ausente. Mas eu estava em casa. Resolvi não me preocupar. Dormi calma e serenamente. Esperei mais um dia. Outro e-mail chegou. Destinatário Ausente. Junto com a frase repetida uma ameaça de retorno ao remetente. Aquela encomenda era importante e mortal. Armei um acampamento na varanda da minha casa durante o dia que se seguiu. Vi a moto amarela com aquele símbolo ao fundo da rua. Sabia que o meu embrulho estava ali. O motoqueiro parou lá mesmo, buzinou três vezes e se foi.
A raiva consumiu meu corpo de maneira tal que não pude controlar meu reflexo. Entrei em meu carro e segui-o. Seu destino foi a velha agência dos correios do bairro. Ouvi a sua voz dizendo que eu não estava lá. Minha raiva chegou mais fundo. Desci do carro e fui saber do meu embrulho. Reclamei com a gerente, você não estava mais lá. Saída a “entregar” outra coisa. Resolvi então usar o meu pacote. Um veneno muito poderoso, extraído de uma espécie rara de cobra africana. Uma zarabatana e uma agulha foram o suficiente.
Você passou pelo meu carro e num sopro a agulha entrou no teu ombro. O desequilíbrio inevitável fez com que a moto tombasse com o seu corpo moribundo. Gritavas de dor num desespero infindo. Fiz questão de buzinar a sua moto e fazer com que fosse o último barulho que fosses ouvir. Você deixou este mundo tão atordoado que nem deve ter percebido. Faz três horas que eu não mato ninguém. Só por hoje.
Putz. Rs.
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